16 de abril de 2024
Memória

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Paisagem da Bahia (1962) – Di Cavalcanti – Coleção particular


Envolvido com outros interesses e ocupando cargos burocráticos, o colega já não andava muito ativo na especialidade médica.

Nas devidas e respeitosas comparações, era um verdadeiro  cowboy-cantor.

Contava muitas estórias.

Relatava casos de difícil resolução.

Toda pinta de cirurgião mas na prática, não fazia mais procedimento cirúrgico algum.

Há muito,  havia pendurado o bisturi.

Como vaqueiro de shows de quermesse, na hora  que puxa o revólver e todos esperam que atire, assopra no cano da arma e começa a cantar Oh Suzana…

Para testá-lo, o companheiro de jantar, sem assunto mais sério a tratar, recorreu a um epônimo, pois especialista que se preza sabe de todos que são homenageados, cedendo os nomes aos mais modernos materiais e equipamentos.

Perguntado sobre a experiência pessoal com o uso das “placas  de Dias D’Ávila”.

Nome imponente, bem que poderia ser mesmo de um grande ortopedista,  se não fosse do colonizador que acompanhou Tomé de Souza em andanças e  aventuras  pelos sertões baianos,  tendo  virado nome de cidade.

Entusiasmado, o agora futuro ex-amigo revelou-se não só discípulo do “colega lusitano”, como também o potiguar com mais experiência no emprego das suas órteses.

O chutaço só não passou muito mais longe da meta, porque o facultativo estava de carro novo.

Naqueles tempos de ágios, era comum a compra de automóveis em outros estados.

Meio desligado, não lembrava onde havia sido feito o emplacamento original.

Não faltou com a verdade.

Vinha usando placas de Dias D’Ávila – BA.

 

Baiana (1950) – Di Cavalcanti – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro

(Primeira publicação em  10/04/2019)

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