20 de abril de 2024
CoronavírusMemória

MARCA DE BATOM NA TELINHA

 

Descanso da Modelo (1882) – Almeida Júnior- Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro

 

Quando começou o distanciamento social, logo promovido a isolamento, pouco se pensava nas consequências para os relacionamentos afetivos.

Se bem que para os de papel passado, faça-se justiça, a Ministra Damares até que alertava, desde o início, para um provável aumento da violência, travestida de acidentes domésticos. Uma mãozada que pudesse cair de cima da cristaleira, bem nas ventas da patroa, por exemplo, seria suspeita

Com o lockdown, só sobravam as rapidinhas desculpas de ir às farmácias e supermercados.

E o  home office amoroso.

Entre as recomendações exaustivamente repetidas, lavar bem as mãos, usar álcool em gel,  não lembraram as autoridades sanitárias, a  orientação de esconder  as senhas de acesso às redes sociais.

Os smartphones realizam milagres, muito além das expectativas de Steve Jobs, mas podem transmitir situações de perigo.

O gênio das inovações tecnológicas não imaginou que sua criação fosse acabar com o analfabetismo. Pelo menos, do assunto, nunca tratou.

Hoje, iletrados, funcionais ou não, mandam suas mensagens faladas e o aparelhinho, acessível a quase todos, faz o resto.

Transforma palavra escrita em oral, vice-versa e não para nem nas barreiras dos idiomas.

Houve um tempo, (começo do Windows e antes do império da Internet) que poucos tinham acesso  ao mundo maravilhoso dos computadores.

Em união estável com uma analfabeta digital (não desenhava no Paintbrush, um O com um mouse), o publicitário era um bambambã dos teclados não musicais.

Sem redes sociais, ainda, tinha alguns amigos virtuais com os quais trocava mensagens.

Protegido pela ignorância total da parceira, que nunca havia dado um enter sequer, resolveu compartilhar (termo a ser expandido no futuro) com um confidente cibernético, uma aventura extra-conjugal.

E tome pabulagem.

Depois de um dia daqueles, ao voltar pra casa, foi atraído (e traído) pelo brilho da tela do computador que tinha certeza,  ter deixado desligado.

Exibindo a página mais picante da peripécia.

Uma amiga da mulher (que já há um tempão, andava meio desconfiada), fera na informática, fez o passo-a-passo.

E a estória foi revelada tintim por tintim.

Foi assim que o relacionamento, não virtual,  foi para o ciberespaço.

O Derrubador Brasileiro (1879) – Almeida Júnior – Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro


(Publicação original em 10/05/2019)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *