24 de abril de 2024
Medicina

MEDICINA EM NOCAUTE

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              (Publicação original em 27/04/2019)

O fechamento do único serviço público de urgências psiquiátricas no estado, evoca recordações.

De uma fase pela qual todos os estudantes de Medicina passam.

A escolha da especialidade.

Daqui pra frente, não haverá mais a chance que a decisão  seja feita à base do bufete.

                   

            ADEUS,  MANICÔMIO.

No quarto ano de Medicina, (sim, houve um tempo em que os cursos não eram medidos por semestres) consegui um estágio remunerado pelo Instituto Euvaldo Lodi e teria que escolher o local de atuação.

Indeciso entre uma especialidade clínica ou cirúrgica, pensei fora da caixa.

Por que não a Psiquiatria?

Imaginava que o fato de ter sido batizado com o mesmo nome do tio mais velho,  era um bom sinal.

Haveria de ter no meu DNA alguma hélice que me impulsionasse na futura profissão.

Tinha dado certo com ele, um dos fundadores da Sociedade Brasileira de Psicanálise.

Sua carreira vinha sendo  muito bem sucedida.

Com especialização em Londres, Casa de Saúde na Tijuca, mansão no Alto da Boa Vista e fazenda em Juiz de Fora.

Escolhi o Hospital Dr. João Machado, conhecido então, apenas por Colônia. Apesar da fama e reputação, à época, lá não muito boas.

Aos novos estagiários era ministrado um rápido treinamento que se resumia em ensinar que drogas usar no coquetel para sedação dos pacientes.

E como abordar aqueles loucos de todo gênero mais agitados que  chegavam do interior, amarrados, na parte de trás de um Jeep Willys.

Os médicos plantonistas por volta das quatro da tarde saiam para seus consultórios e não mais voltavam.

Toda a autoridade e responsabilidades ficavam com o estudante que só as dividia com Dona Raimunda, a funcionária mais antiga e moradora do primeiro andar.

Circulava com desenvoltura por todas aquelas alas e enfermarias, sempre lotadas.

Pacientes dormindo pelo chão, o que nos obrigava a caminhar atentos para não pisá-los.

Medo, um pouquinho, principalmente daquele silêncio, quando  chamado para um atendimento nas altas horas.

Parecia mesmo que a dúvida que me restava era só de quem seria  discípulo: Freud, Lacan ou Melanie Klein.

Até o dia que o sossega-leão não funcionou bem e um paciente, que era pra estar pra lá de sedado, desferiu um violento soco no rosto do auto-confiante futuro e agora,  ex-futuro Psiquiatra.

Tomei duas atitudes: comprei novos óculos e nunca mais voltei para os plantões.

Como virei Urologista?

Conto depois. Se souber porque foi.

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 foi.

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