18 de abril de 2024
CoronavírusImprensa Nacional

Médico de Mossoró relata ao Estadão esgotamento depois de um ano de pandemia

Do Estadão 

Há dez meses trabalhando na linha de frente contra o coronavírus, o médico intensivista Miguel Rogério de Melo perdeu as contas do número de pessoas que viu morrer por causa da doença.

“Trabalhar em UTI-covid não é como trabalhar numa UTI comum. A falta de recursos e de material deixa tudo muito desgastante. Em vários momentos da pandemia faltam coisas básicas.

E não estou falando nem de aparelhos caros. Faltaram sedativos e até medicações para manter a pressão arterial do paciente em níveis vitais”, relata o profissional de saúde, que trabalha atualmente na cidade de Mossoró, no interior do Rio Grande do Norte, mas esteve em diversos hospitais do Estado.

Como o Brasil não tem mão de obra suficiente para atuar em Unidades de Terapia Intensiva com essa especialização, Miguel se viu obrigado a continuar trabalhando, mesmo diante de tanto estresse.

“Por vezes até pensei em desistir porque não estava vendo resultado. Mas continuei, senão seria pior. Como a demanda de pacientes estava alta e, como a UTI-covid precisa de mão de obra específica, acabei ficando mesmo sem materiais básicos para tratar os doentes. Eu ia trabalhar e saia destruído do hospital. Uma situação desesperadora”, desabafa.

Miguel temia contrair covid-19 e, acima de tudo, transmitir a doença aos familiares.

“Essa era a minha maior preocupação. Infelizmente, por estar sempre me expondo, acabei me contaminando, mas tive a forma assintomática e consegui me isolar, longe dos familiares, e evitar que prejudicasse as pessoas que eu amo”, relembra.

Em setembro, quando o número de casos estava aparentemente controlado, o médico intensivista foi ficando mais tranquilo. Porém, com as festas de fim de ano e as férias, momentos em que muita gente decidiu promover aglomerações, e o recrudescimento da doença, as coisas voltaram a piorar.

Agora, o esgotamento mental de Miguel Rogério de Melo é em relação à nova variante, inicialmente registrada no Amazonas.
“Quando vi o que está acontecendo em Manaus, fiquei realmente preocupado. Se isso acontecer aqui (Rio Grande do Norte), a gente não tem estrutura! A única coisa que me deixa relativamente aliviado é a vacinaque, a despeito das fake news, tem se mostrado bastante eficaz. Em Israel, com grande parte da população imunizada, os efeitos positivos já estão sendo sentidos”, diz.
DO TL  Se não pelo outro sem rosto e nome, lembremos dos Rogérios que estão no front há um ano, colocando em risco a própria vida. Sejamos conscientes. Um pouco mais de paciência para aguardar a vacina. Quem puder, em casa..

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