20 de abril de 2024
HistóriaLetras

MEMÓRIA OLFATIVA

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A vasta obra literária dispensa o adjetivo importado,  que virou moda para classificar mulheres que querem ser como ela.

Empoderadas.

Jornalista nos anos 30, romancista aos 19, desquitada antes da guerra, militante do partido comunista.

Só não foi o que não quis ser.

Poderia ter sido a primeira Ministra da Educação.

Convidada por Jânio Quadros, talvez já  prevendo o fim patético do governo que se iniciava com muita novidade, polêmica e bilhetinhos, livrou a biografia de ter saído do poder, na vassourada.

Quebrou o tabu e rompeu o preconceito ao assumir uma cadeira na Academia Brasileira de Letras.

No tempo em que se questionava até que não caía bem, uma saia no fardão dos imortais.

O predomínio da temática regional nordestina não impediu de se tornar uma escritora globalizada.

Nas adaptações para séries de  TV  e por traduções em várias línguas.

Seu pioneirismo atravessou o mar. Foi a primeira mulher a ganhar o Prêmio Camões de Literarura.

Durante mais de trinta anos anos manteve espaço n’ O Cruzeiro, a maior e de mais repercussão revista antes da Veja.

A Última Página era reservada para crônicas,  onde costumava também responder cartas dos leitores.

Depois de 1964 e até o fechamento do semanário em 1975, emprestou seu talento e prestígio ao golpe militar, tratado por ela como movimento revolucionário.

Contragolpe, Contrarrevolução. Revolução redentora.

Passou a publicar no Estadão, sob patrulhamento da intelligentsia de esquerda.

E nunca parou de escrever, mesmo aos quase 93 registrados no obituário, quando não podendo mais datilografar, ditava para uma irmã seus pensamentos e experiência de vida.

Longa e rica.

A escritora que foi presa pelo Estado Novo de Vargas e teve seus livros queimados na ilustre companhia dos de Jorge Amado, Graciliano Ramos e quem mais escrevesse sobre o sofrimento do povo brasileiro,  passou a ser esquecida e discriminada pela geração dourada que curtia O Pasquim.

Sua amizade com o conterrâneo e parente distante, Marechal  Humberto de Alencar Castelo Branco, nunca aceita, só acabou poucos meses depois do presidente eleito pelo parlamento acovardado, morrer em acidente aéreo na volta de uma visita à sua Fazenda Não Me Deixes, no Quixadá.

No plantão da clínica de Botafogo, onde só chegavam bacanas e poderosos, a internação de mais um médico não chamava a atenção. Tantos eram os que procuravam os serviços, saberes e atualizações dos medalhões.

O Dr. Oyama de Macedo, dedicado a vida toda à saúde pública, estava sendo acompanhado e cuidado  pela esposa que já passando dos 70, andava com dificuldade. E bengala.

Nas visitas diárias, o médico residente nunca ultrapassou os limites do boletim da evolução diária. Resultados de exames e esperanças de melhoras.

Que não vieram.

Ficou o arrependimento de não ter se declarado leitor das suas estórias,  lidas num interior igual ao dela  e falado da Tia Iracema. Fã que comentava ao fim de cada leitura, com a mesma aprovação.

Formidável.

Na lembrança jamais esquecida, o que nunca mais foi  sentido.

Um cheiro como o de Rachel de Queiroz.


(Texto publicado em 02/09/2020, para lembrar que  crises, poderosos e políticos, passam. O talento fica)

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Homenagem do Google aos 107 anos de nascimento de Rachel de Queiroz em 17/11/2017

One thought on “MEMÓRIA OLFATIVA

  • Geraldo Batista de Araújo

    Eesta cearence foi uma grande figura nss letras e no carater.

    Resposta

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