MENTIRA A CAVALO
Desde que as mais altas autoridades elegeram o tema como prioridade, logo depois da pandemia, paira entre gotículas de aerossóis, no ar perigoso, uma grande dúvida.
É possível chegar ao início da criação de uma notícia falsa ou toda ela tem mesmo, fundo, frente e verso de verdade?
Uma piada de médico-residente, num hospital de subúrbio, antes do boom das redes sociais, chegar aos noticiários de maior audiência e às páginas dos grandes jornais do país, pode ser um bom exemplo de um making of de uma fake news de verdade.
(Publicação original em 04/08/2019)
FALSO PRA CAVALOMais um anglicismo caiu no gosto do povo. De Lagoa d’Anta, Campos do Jordão e alhures. Virou verbete.
Agora não se contesta uma notícia, sem recorrer à nova expressão.
Quem precisa esclarecer algum fato nebuloso, fugir de assunto desagradável e até esconder o óbvio, simples assim.
É só carimbar o rótulo de fake news e bola pra frente.
Problema resolvido
Trump é quem mais tem utilizado o termo para se livrar de tudo que é disparado em direção a seu alvo.
É o bambambã e maestro. Um Tom Brady.
Dizem que produz, desenvolve, entrega e devolve a mercadoria como um virtuoso.
Das brejeiras eleitorais com os russos às revelações picantes das pistoleiras de vida fácil.
Com este colete de teflon, peita a mídia e nada gruda nele. Toda acusação vira moeda de três dólares.
Suspeita-se que alí mora o segredo do seu topete nunca decaído.
Por gravidade, como tudo o que vem guiado pela estrela do norte, a cachaça derramou-se pelos bananais abaixo do equador.
Aqui, chegou causando. Atende pelo nick. Fake para os íntimos.
Os conterrâneos que chamam os gentios de paraíbas, são doutores no assunto.
Soltam uma verde e ficam esperando a volta. Em cores de Almodóvar. Ou do arco-íris.
Revista e ampliada.
Um médico-residente do Hospital de Bonsucesso, cansado de explicar à clientela que o exame de tomografia (quando ainda novidade) não se aplicava a todos os casos e a ninguém curava, recebeu um pedido insistente de uma baleia (obesa mórbida, para os corretos).
Na hora, sem outro argumento melhor para a negativa, disse que no caso dela, pelo volume, somente o aparelho de um hospital da Gávea podia fazer o exame.
O encaminhamento virou prática.
De início, como piada.
Depois, com a chegada de novos médicos que não sabiam da missa a metade, a conduta falseada continuou.
E foi longe.
Até sair no RJ TV.
Para acabar em nota oficial do Jockey Clube, nos jornalões Globo e JB.
O sodalício dedicado a corridas equestres e apostas, pedia encarecidamente que não mais o procurassem para exames médicos
Por motivo muito simples. Seu hospital tratava animais de quatro patas.
Equinos.
Olhe lá, muares e asininos.
E nunca teve um tomógrafo.
Era assim que galopava uma falsa notícia no começo deste século.