28 de março de 2024
Opinião

Mesmo com muito dinheiro, partidos do RN não são partidos de verdade

os-partidos-politicos-no-brasil-e-sua-historia_68937

Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 21/07/21

Com o aumento do fundo eleitoral para o patamar de R$ 5,7 bilhões, aprovado pelo Congresso na última quinta-feira, a campanha eleitoral do próximo ano vai se tornar a mais cara já realizada.

Muito mais cara do que a campanha de 2014, quando o juiz Sérgio Moro e a brigada comandada pelo intrépido Deltan Dallagnol, desceu do Paraná liderando uma força-tarefa para combater a corrupção, prender os corruptos da política brasileira e restabelecer a moralidade.

Eram os bons tempos da Lava Jato, sem respeitar os limites constitucionais ou os direitos individuais, um outro Brasil estava sendo revelado. Centenas de empresas e pessoas, que teriam recebido “repasses” milionários sob diversas justificativas, legais ou ilegais eram mostradas.

Recursos destinados a agentes públicos e políticos saiam do nada. Faltando as provas concretas, ficou a convicção de que os departamentos de “operações estruturais” eram os mais eficientes de firmas que trabalhavam para o governo.

O gasto da campanha de 2014, descontada a inflação, foi de R$ 6.3 bilhões. Foi o patamar máximo até aqui adotado como critério para a despesa total com campanha eleitoral que vai sair da bolsa da viúva.

FUNDÃO ATENDE TODOS

Como a legislação permite também o financiamento via fundo partidário e doações de pessoas físicas, a probabilidade que o recorde seja ultrapassado é real. Em2014, o forte era a doação empresarial.

Também como um exemplo de como os valores destinados pelos parlamentares vão na contramão do movimento que vigorou nas eleições de 2016, 2018 e 2020, de barateamento de custos, 11 dos 13 partidos devem receber em 2022 uma fatia superior a R$ 200 milhões, valor máximo destinado a uma sigla nas eleições do ano passado.

Segundo os especialistas, o novo fundo eleitoral reservaria mais de R$ 1 bilhão a PT e PSL, já que a legislação prioriza repasses as maiores bancadas da Câmara.

O Fundo Especial de Financiamento de Campanhas, chamado “Fundão”, foi introduzido na eleição de 2018, no valor de R$ 1.7 bilhão pra compensar o fim do financiamento empresarial que se tornou mal visto após as denúncias da Operação Lava Jato.

Executivos das principais empresas doadoras de campanhas eleitorais – Odebrecht, Andrade Gutierrez e JBS – firmaram acordos de delação nos quais admitiram obter contrapartida para seus contratos públicos.

DINHEIRO NÃO É PROBLEMA

Sem problema de dinheiro, como os políticos do RN se preparam para encarar a próxima eleição? Na verdade, eles não conseguiram solucionar o maior problema deles, que é a regra do jogo eleitoral.

O maior interesse da maioria deles é saber como os futuros deputados serão eleitos. Com ou sem voto proporcional?

A dúvida é saber se, nos próximo 60 dias, se a atual legislação será mudada e adotado o “distritão”, acabando o voto de legenda. Os oito Deputados Federais (e 24 estaduais) eleitos serão os mais votados.

As máquinas partidárias do RN já estão programadas para isso. O importante é o voto de Deputado Federal (cada um dos atuais é dono de um partido). O resto – Presidente da República ou Governador do Estado – é só detalhe.

As conversas desenvolvidas até o presente quase só cuidam dessa eleição.

O mestre Merval Pereira explica tudo a partir da situação nacional “O escandaloso aumento do fundo eleitoral aprovado pelo Congresso a toque de caixa é apenas uma faceta de um golpe legislativo que está em curso para mudar também o sistema eleitoral e aprovar a maior reforma política já feita desde a democratização.

Tudo sem o debate público necessário, a fim de que as novas regras sejam aprovadas até o começo de outubro, para entrarem em vigor na eleição geral de 2022.”

UM TRISTE EXEMPLO

Quem procurar um partido político no RN,  vai observar que não existem grandes partidos.

Houve um nivelamento por baixo, prevalecendo o modelo dos partidos nanicos ou das legendas de aluguel. Ou sobram os partidos institucionais, partido do governo, partido da assembleia e até da Câmara de Natal.

Triste retrato dessa situação é o MDB, que ao longo de 50 anos foi o maior partido do Estado e hoje virou nanico.

Entregue ao deputado Walter Alves, este programou o MDB no seu próprio horizonte. Ele quer um partido para se reeleger. Um partido do seu tamanho.

A possibilidade de um filiado do MDB querer aumentar a bancada federal não é levada em conta. Walter acha que em vez de lutar por duas cadeiras, mais seguro é garantir a sua, sem correr risco. E quem quiser se eleger Deputado Federal procure outra legenda.

Esse jogo está sendo jogado agora contra o maior nome do partido, o seu primo Henrique Alves, que tem sido desautorizado nominalmente por ele de falar no partido, pois se acha o único a mandar no MDB. Só quem pode falar em MDB é o próprio Walter.

SETE A UM

Entre os oito Deputados Federais do RN, apenas Natália Bonavides (PT) é assumidamente contra o Distritão, além de ser única a atuar em ação coordenada com integrantes de sua bancada partidária no exercício do mandato.

Os outros sete, além do voto na mudança da legislação, exercem uma militância justificada pela própria sobrevivência.

Eles se adaptaram a nova situação que foi se estratificando e fez do RN, o único Estado onde a representação na Câmara Federal tem só um deputado por partido. Isso, desde 2014, ainda quando existiam coligações no voto proporcional.

Agora, o desafio é fazer o eleitor homologar aquilo que foi decidido na véspera.

A grande dúvida para o próximo pleito deve ser definida em cinco semanas. Tempo suficiente para administrar partidos que na verdade não são partidos de verdade, embora tenham muito dinheiro.

No Brasil são 35 partidos registrados, 15 dos quais tem os mesmos dirigentes há mais de dez anos, e são geridos como bens de família.

One thought on “Mesmo com muito dinheiro, partidos do RN não são partidos de verdade

  • observanatal

    Tá certo. Tá mais do que certo, Cassiano Arruda.

    Os partidos do RN são terríveis. Qualquer Zé Mané se acha dono de partido. Fidelidade partidária não existe.

    O MDB agora está do tamanho de Walter Alves: Minúsculo. Eleição de 2020, além de perder Álvaro Dias, só fez um vereador. Até Felipe Alves, mais Walter que Henrique, resolveu sair do MDB. É de uma vergonha sem tamanho. Por que Walter Alves não vai destruir o PTB, que ele deu de presente para o babão Getúlio Batista?

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *