MODELO HÚNGARO
A festa em verde e vermelho marcou a volta dos torcedores depois do exílio de mais de um ano, dos estádios de futebol.
O Aréna Puskás parecia não ter recebido entre os 65 mil que ocuparam todos os lugares, os 5 mil patrícios mais abnegados que viajaram 3 mil quilômetros para não só mais um jogo, testemunhar um sinal de recuperação e alento de vitória.
No estádio à pinha, somente as esferas armilares pregadas nas bandeiras, revelavam que as caravelas portuguesas também haviam atracado no cais do Danúbio.
O espetáculo, com o favoritismo aceito antecipadamente, como esperado, transcendeu o jogo.
Mesmo na derrota, por táticas, qualidades individuais ou outros ronaldos, ao final, a plateia deu uma colorida aula de fairplay, cidadania e fé na humanidade.
O canto do hino nacional, mais que homenagem aos que representaram a nação, reconheceu que pode-se sair vitorioso apesar do placar adverso.
Com um pouco mais da metade dos seus 10 milhões de habitantes vacinados, a Hungria está presenteando o resto do mundo, um experimento que deverá ser levado em conta para a retomada dos hábitos, costumes e atividades de antes da pandemia e suas restrições.
Enquanto outros países mostram-se menos afoitos, liberando até um terço da capacidade dos estádios, o governo húngaro arriscou a repetida estratégia de misturar futebol com política. Desta vez, com o forte tempero do perigo refratário da doença avassaladora.
A tese a ser comprovada é se pessoas vacinadas ou sabidamente imunes podem se aglomerar, sem aumento do risco de propagação do mal onipresente.
Não é só a Ciência que está sendo desafiada e testada.
Como em outros e todos os lugares, também tem a política.
Sempre ela. Estúpida!
O medo da pandemia não resistiu à ambição do primeiro-ministro que vai saber em 2022, em veredicto popular, se merece continuar no cargo que ocupa há 11 anos.
Das mais atingidas na União Europeia, na vacinação, a Hungria não seguiu a orientação do grupo e apressou o processo com importação direta de imunizantes russos e chineses.
No remanso da maré anti-droit que já levou Trump e Netanyahu, Orbán também escolheu confiar o futuro político à imunidade vacinal.
Sem esquecer que a pátria magiar calça chuteiras.
As coincidências recomendam aos brasileiros manter um olho em Buda e outro em Peste.
Não é que o nosso Messias, além de ter acolhido a copa desterrada, procurou a Pfizer para pedir agilidade na entrega de vacinas?