NAS ASAS DO DESTINO
Se as migrações internas serão diferentes quando quase tudo voltar ao quase normal, é uma pergunta ainda sem resposta.
A intensidade da recessão traçará o roteiro para onde os jovens irão quando não encontrarem trabalho e ocupação perto de casa.
Para as fronteiras agrícolas, muitos.
As cidades grandes e suas periferias, continuarão desilusão para outros mais.
Em tempos de confinamento, os serviços de entregas em domicílio estão em alta.
A frota aérea precisará da renovação de sempre.
(Publicação em 01/06/2019)
BATISMO NO JACAREZINHO
Sem perspectivas na cidade do interior, como muitos da sua idade, resolveu tentar a sorte no Sul.
Encantado com promessas de emprego e as belezas da cidade maravilhosa, foi ficando.
Adaptou-se logo ao corre-corre e costumes da metrópole. E usos, também.
Do barraco de parentes para o próprio, foi um pulo.
Sobre duas ou três palafitas.
Jacarezinho! Avião!
Já era assim antes do síndico do W/Brasil.
O primeiro emprego a gente nunca esquece.
Transporte de coisas de valor. Em trouxinhas.
Jacarezinho! Avião!
Foi galgando posições na organização. Depois de ser promovido a gerente, mandou buscar o resto da família.
Quando soube que o amigo de infância, médico, estava morando por uns tempos na mesma cidade, o convite para apadrinhar o primeiro filho, ainda no ventre da companheira.
Acertaram uma visita para os detalhes da festa do batizado.
Num sábado, na companhia de quem conhecia aquelas ruas, vielas e becos, a recepção pela matriarca, no ponto de ônibus indicado.
Em frente, outro migrante, dono de sapataria, ao perceber o destino do grupo, recomenda, com ênfase, a desistência do que poderia vir a ser uma aventura perigosa.
Com os esclarecimentos que um salvo-conduto, a ordem dos hômi, assegurava o direito constitucional de ir e vir, o encontro foi realizado sem atropelos.
Com galinhada, farofa e cerveja.
A consagração do novo cristão nunca viria a acontecer.
O motivo ficou registrado nas estatísticas da mortalidade perinatal.
As notícias da família carioca também feneceram.
Até voltarem alguns anos depois, com o anúncio da tragédia e a dúvida final:
-Como foi que aquela bala perdida (ou não tão perdida assim), foi achar o compadre Cabelinho?