27 de março de 2024
Opinião

Natal vive sua campanha mais pobre. Inclusive de promessas

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 28/10/20

Faltando menos de três semanas para a eleição, já é possível fazer um primeiro balanço sobre o saldo que ficará da disputa democrática que começou com16 candidatos, cada um deles podendo construir a cidade imaginária que pretender edificar.

No meio do caminho, um candidato divulgou uma carta-renúncia, acompanhada de um atestado médico, de que ele havia sido infectado pelo coronavírus, em boa hora para quem havia sido condenado (ao pagamento de multa) por divulgação de fake news.

Mesmo assim, na semana seguinte continuava na televisão, usando o espaço da Justiça Eleitoral, como se ainda fosse candidato e espalhando suas promessas, nem uma delas conseguindo chamar atenção, nem pelo ineditismo, ou mesmo pelo absurdo.

Os candidatos, de uma forma geral, evitam o termo promessa. Existe uma outra palavrinha – também começando por P – que eles usam sem restrição: Proposta!

Mesmo significando mais ou menos a mesma coisa, está menos desgastada. E nas pesquisas qualitativas, o eleitor aprova a apresentação de “propostas” do candidato, sobretudo nos programas de tv.

HORA DO PROTESTO

Nessa matéria, a última grande novidade a merecer registro, aconteceu há 12 anos. E a partir de uma promessa, a campanha mudou completamente, mesmo lançada por um candidato alternativo – e bota alternativo nisso.

Quem conta melhor a história daquela eleição é o próprio resultado eleitoral sozinho: CARLOS EDUARDO (PSB) 137.664; 37,3% , LUIZ ALMIR (PSDB) 112.403 30; 46%, MIGUEL MOSSORO (PTC) 67.065; 18,17%, FATIMA BEZERRA (PT) 27.331; 7,41%, NEY LOPES (PFL) 21.115; 5,72%, DÁRIO (PSTU) 2.702; 0,73%, LEANDRO (PHS) 760; 0, 21%.

Por que o desconhecido candidato do minúsculo PTC, Miguel Mossoró, teve a terceira votação?

Tendo chegado na frente da hoje governadora Fátima Bezerra, do PT, e do então deputado Ney Lopes, contando com a estrutura do DEM, foi estudado como um fenômeno, mas dois anos depois, candidato a Deputado, Miguel Mossoró não somou três mil votos (e ele se acreditava proprietário de 67 mil votos). Hoje, Fátima é Governadora do RN.

A partir da absurda promessa de fazer uma ponte Natal-Fernando de Noronha, Miguel Mossoró mudou o eixo da campanha, que passou a pautar por mais dez ideias hilariantes a partir dessa.

Inclusive uma “mãozada” no turista que cometer assédio sexual, com o apoio voluntário de um grupo de intelectuais e boêmios que assumiram a campanha. Miguel Mossoró foi o grito de protesto do eleitor, como haviam sido os antológicos Macaco Tião, no Rio, e o Bode Cheiroso, em Pernambuco.

CADÊ A FESTA

A partir de 1960 campanha eleitoral de Natal virou sinônimo de festa. O candidato a Governador do Estado, Aluizio Alves, aboliu o paletó e gravata nos seus comícios.

Foi o primeiro passo. Depois ele criou as “vigílias cívicas”, subindo em cima de um caminhão – o “Caminhão da Esperança” – carregando uma multidão até a manhã seguinte.

Vinte anos depois, seu adversário José Agripino trocou a caminhão pelo trio elétrico, com música e dança à domicílio.

Foi o tempo de ouro dos “showmícios”. Festa sem disfarce. A militância classe A se preparava para participar de uma festa a cada movimentação. Levava comida e bebida, e se antecipava ao roteiro da carreata se preparando para o showmício.

O showmício foi proibido pela legislação eleitoral. A festa não. Mesmo sem a presença de grandes artistas, o espírito de festa continuou. Bastava o trio elétrico.

A pandemia mudou tudo. Pelo menos na capital, com medidas de restrições ao aglomerado de pessoas. Mas, no Interior a festa continua (segundo as gravações em vídeo que chegam todos os dias).

Aqui em Natal, o líder nas pesquisas abdicou de qualquer movimentação capaz de gerar multidões, em razão da pandemia…

CAMPANHA TRISTE

Até o presente, o máximo de movimentação popular que se tem conseguido são os “bandeiraços”, preferencialmente nas manhãs dos domingos, com grupos de pessoas levando bandeiras do candidato na expetativa de mostrar sua presença na cidade.

Uma das poucas movimentações com sentido partidário, mesmo organizado por algum candidato a vereador, alardeando todos os cuidado sanitários. – Até a governadora Fátima tem participado desses eventos.

Mesmo assim, a campanha fica restrita ao exíguo tempo na televisão. Quem quer ver a campanha sabe as horas (13 hs e 20h30) durante dez minutos. Álvaro tem quase quatro minutos e ainda aparece um bom tempo na programação dos adversários.

Sem comício, a hora das promessas é na tv e nas redes sociais. Nesse ponto, o campeão desta campanha é Jean, do PT. Ele promete ônibus de graça a energia eólica para o natalense. Na sua rápida explicação, a Prefeitura adquire a energia e dá aos donos dos ônibus, que receberão uma frota nova, paga pelos produtores de energia.

Não foi dito que Natal já teve ônibus elétrico, na administração Marcos Formiga, quando não tinha energia eólica. Vai ver que foi por isso que não deu certo… Mas, com energia eólica, quem sabe?

PROMETER É PRECISO

Faz tempo que Hermano Morais apresentou a promessa – em outra campanha que disputou – de instalar, no bairro da Ribeira, um distrito de tecnologia da informação. Devem ter dito a ele, que a antiga promessa já existe atualmente, instalado nos limites do Campus Central da UFRN, em Potilândia, sem sua participação e não se falou mais no assunto. Ele fixou-se agora num teleférico para o Morro do Careca, em Ponta Negra, como o que está sendo instalado em Santa Cruz.

Exibindo um par de algemas na algibeira, o delegado Sérgio Leocádio promete acabar a corrupção. Mas não falou o que fez – ou porque não fez – quando foi Secretário de Segurança da Prefeitura de Natal para atingir esse objetivo. Seu tom agressivo tem um preço. Ele é campeão de rejeição na campanha.

Já o candidato Kelps Lima tem a promessa de prazo mais curto. Ele promete o Carnaval de 2021, mesmo com a pandemia, e sem a chegada da vacina contra o coronavírus. Ele teve a maior queda nas pesquisas (metade dos votos) e tem de buscar outros rumos.

E os outros? Coitados. – Não tiveram condição de se destacar. Agora, para eles, só resta a urna e o voto.

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