19 de abril de 2024
CoronavírusFamilia

NO FUNDO DO BAÚ

F8AC9B3A-6420-4FBC-8169-14F1D0B57FB9Finalmente o segredo foi descoberto.

Pelo menos do paradeiro do que todos vêm perguntando desde que o mundo é mundo.

Onde está a felicidade?

Foi preciso a multiplicação de uma quarentena por quatro para se saber que ela sempre esteve por perto. Muito perto.

Ali, no baú das recordações familiares.

Momentos de alegria. Reveladas em fotos desbotadas e do tempo em que eram em preto e branco. Fragmentos de bilhetes. Cartões com dedicatória de presentes que já não se sabe quais foram. Cartas. Registros de datas que marcaram vidas.

Estórias dos que se foram antes mas deixaram a melhor herança.                                                               O sentimento que não cabe em palavras.

Das lembranças que aparecem do nada, uma reclamação todos fazem.

Elas insistem em se vestir de saudade.

(Publicação original em 14/07/2019)


FILHOS DO ORGULHO

Pais corujas todos tiveram ou têm. E são. Quem nunca espalhou a todos os ventos,  as façanhas, peripécias e conquistas dos pimpolhos?

Muitos erram na dose. Exageram. Até provocar desconfianças.

Alguns criaram fama .

E passaram às  gerações seguintes, o esplêndido berço onde não deitaram. E o  segredo de como cultivar o orgulho do bem.

Lá atrás, há muito, foram motivo de inveja e chacota mas nenhum parente vai esquecer de lembrá-los.

Seus pequenos artistas, como o logorreico papagaio que ficava mudo quando levado aos programas de auditório, nunca repetiam os fenômenos, ao vivo. Nem nas reuniões da família.

O menino ainda nem sustentava a cabeça direito e diziam, fazia tantas estripulias que já dava pra trabalhar no Circo Nerino.

Essas crianças completaram todas as fases evolutivas, (sempre antecipadas),  entraram na puberdade e passaram pela adolescência,  sem turbulências nem mares revoltos.

Vestibular ou qualquer outro funil, aprovados de prima volta. Nos cursos mais concorridos. No primeiro semestre. Nas federais. Formados, bem sucedidos desde o estágio probatório. Daí para serem trainees e gerentes gerais são dois pulos.

E nenhum parente ou aderente deixa de saber das promoções, progressões e níveis do plano de cargos.

Tudo seria muito perfeito se não sobrasse para os outros. Os primos normais.

Que fizeram xixi na cama, até depois dos cinco. Ameaçaram sair de casa aos 14. Tiveram dúvida se queriam ser mesmo baterista de banda de rock. Ou surfista profissional.

O que antes era propagado por cartas e bilhetes, hoje corre na velocidade da luz. Do Facebook. E do Instagram.

A saga não acabou. E pelo jeito não acabará tão cedo.

As novas fornadas recebem muito mais lenha para manter acesso o fogo da pequena vaidade.

São cursos no exterior, mestrados, doutorados, pós-doc.                                           Essa turma vai longe. Em viagens maravilhosas.

Festas deslumbrantes. Casamentos e outras novas formas de relacionamentos estáveis. De ambos os três ou quatro sexos.

Como sabem celebrar a vida!

Aquela tia-avó que conseguiu  atingir a perfeição no marketing da prole, transmitiu o método aos netos e bisnetos.

Mesmo passados mais de sessenta anos,  quando alguém posta uma dessas pabulagens filiais, o comentário no grupo familiar (sobrevivente à última eleição) é automático:

-Ave, Tia Clarinda!

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