19 de abril de 2024
HistóriaHomenagem

NOSSO GENOCIDA FAVORITO

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A eleição de
Barack Obama que poderia ter sido o ponto final no assunto, aumentou ainda mais o debate se os afro-americanos já estariam  compensados pelas atrocidades sofridas.

Nem o premiadíssimo filme Lincoln, de Steven Spielberg, pode ser responsabilizado pela onda de revisionismo histórico que explodiu com a morte de George Floyd, por policiais brancos, numa rua de subúrbio em Minneapolis.

O que seria um protesto de moradores contra a violência policial e o pedido de justiça para os envolvidos no crime, ganhou outras praças, avenidas e cidades.

Correu o mundo, ecoando uma frase que dispensa traduções.

Black lives matter.

A história continuou a ser recontada. O herói que venceu a guerra e reunificou a nação, também estava sendo julgado por ter estimulado a exportação do problema racial para países do Caribe e até fronteiras mais distantes, como o Brasil.

A simpatia pela política de apoio a companhias norte-americanas para adquirir terras em lugares  geoestratégicos e para lá mandar  os negros libertos,  mantendo longe dos espaços reservados, guetos e moçoilas louras, a  mão-de-obra essencial ao cultivo de produtos que preferiam  importar.

Monumentos já  foram vandalizadas e homenagens retiradas de presidentes escravocratas.

Generais antes glorificados pelas conquistas de territórios índios, estão tendo suas patentes rebaixadas e estrelas apagados das placas de ruas e frontispícios de prédios públicos.

Nem nas selas das estátuas equestres, se equilibram mais.

Na pindorama tropical,  ainda vige a anistia irrestrita aos crimes que o passado  condena.

Em nome da tradição e do perdão conferido pelo tempo, o senhor de meia dúzia de escravos ainda conserva a corda, o nó e a forca que o levaram ao panteão dos heróis da pátria independente.

Nos caminhos que unem os extremos da cidade dividida em norte e ricos, uma avenida de quase seis quilômetros.

Homenagem, em batismo coletivo, aos  governadores-gerais da Capitania do Rio Grande em letreiros de ruas antes numeradas.

Subordinada a Pernambuco, a ex-província foi governada, por cinco anos,  pelo mor-capitão Bernardo Vieira de Melo, filho de militar, senhor de engenho.

O cargo no topo da hierarquia das milícias foi auferido como recompensa pelo desempenho contra os amotinados de Palmares.

Pelo interior,  em terras secas e vales verdejantes,  deixou rastro e  obras marcantes.

Na sua opereta, resplandece a  fundação do Arraial de Nossa Senhora dos Prazeres, hoje com afeto e assúcar, Açu.

Seu perfil de pacificador é desenhado à pena em vermelho rutilante e na  obra de fortificações e presídios.

As medalhas de honra ou mérito,  todas recebidas em reconhecimento à bravura de missões espinhosas e perversas.

Na Serra da Barriga, socorreu o sargento, comandante das tropas leais, em apuros.

Vitórias, louros e  glória que não sepultam os mais de quatrocentos negros fugitivos, recapturados e condenados à pena capital, pela sentença do juiz implacável.

Depois de suas incursões expansionistas pelo território inóspito, da nação tapuia, sobraram poucos na tribo Janduis.

Todos cristãmente pacificados.

Homem bem à frente do tempo, no Senado da Câmara de Olinda, foi dele o primeiro pronunciamento republicano em terras imperiais, 180 anos antes do primeiro golpe militar.

A ousadia retórica custou-lhe a prisão e o degredo, junto com um filho, para Lisboa, onde morreu no cárcere.

No capítulo potiguar desta biografia a ser revista e reeditada, tem um espaço reservado para outro capitão.

De empresa.

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One thought on “NOSSO GENOCIDA FAVORITO

  • Maria das Graças de Menezes Venâncio

    Vc tem razão em lembrar a apropriada substituição do nome da Avenida Bernardo Vieira.

    Resposta

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