VELHO ANORMAL
O aviso do corretor de seguros que a apólice do carro está prestes a vencer, é sinal de turbulência financeira. E que o prazo para a renovação muito curto, dispensa consultas à concorrência.
O sinistroso sem gastar saliva, vai logo teclando os melhores preços e condições de pagamento.
A cobertura, com a abrangência de sempre e os bônus por invalidez parcial ou total, que ninguém quer nem pode desfrutar, vêm junto com outros benefícios, nunca requeridos. Por esquecimento.
Boleto enviado e logo encaminhado para o home banking. Pago, debitado da conta e comprovante remetido para controle do agente pastoreador dos infortúnios automobilísticos alheios.
Operações realizadas em poucos minutos.
Tudo feito em hammock office, pelo onipresente e indispensável smartphone.
Sem aglomerações, deslocamentos, filas nem boicote à taxa de isolamento determinada pelo comitê científico.
Tudo moderníssimo e na maior normalidade.
Vírgula.
Em tempos de pandemia, nada está seguro como antes parecia estar. Muito menos para todos os membros da família, se incluído o beberrão perdulário de quatro rodas.
De 14 em 14 dias, afora as conversas pra boi dormir, a quarentena multiplicada por 3, continua sem data pra terminar.
O tempo de inatividade, reclusão e motor parado não foi sequer cogitado na composição do novo preço do prêmio. Nem para redução da franquia.
A probabilidade do sinistro acontecer, reduzida em 25% no período da vigência atual, não motivou nenhum ajuste no valor da apólice.
Condutores habituais em recesso compulsório estão menos expostos aos infortúnios. Isso não foi levado em conta.
Com o trânsito fluindo como se todo dia fosse quarta-feira de cinzas, o único perigo que correm nossos carros, além de algum mofo, acúmulo de teias de aranha e os roubos já planilhados, é ter a bateria arriada. Mas isso é outra estória. Sem cobertura contratual.
A não ser que já estejam prevendo aumento das despesas, numa segunda onda, quando o tráfego voltar a engarrafar.
Por abalroamentos, colisões e barbeiragens, com a volta dos cangueiros de sempre e os novos, desacostumados, aos volantes.
Ou as seguradoras revisam suas planilhas de custos e preços, ou os clientes automobilistas começam a fazer as mudanças que os novos tempos estão exigindo.
Seguro, pra que seguro, se nossos carangos não rodam mais?
E a propósito, pra que carro, se de casa não podemos sair?
É bom estarmos preparados que a nova contaminação que já atinge os tifosi, acaba chegando por aqui.
Ritirari la macchina. Stai a casa.