28 de março de 2024
Imprensa Nacional

O “amigo de Jair Bolsonaro” recua depois de ser o 4º a apontar corrupção em gabinetes da família

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Do Estadão

Amigo de Jair Bolsonaro, a quem assessorou na campanha presidencial de 2018, Waldyr Ferraz, o “Jacaré”, tornou-se a quarta pessoa próxima a gabinetes da família a citar a existência de um esquema de rachadinha (desvio de salários) envolvendo ex-funcionários do presidente ou de seus filhos.

A suposta apropriação de parte dos salários de assessores pelos políticos foi revelada a partir de um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), em reportagem do Estadão em dezembro 2018.

Waldyr afirmou à revista Veja que a advogada Ana Cristina Valle, segunda ex-mulher do presidente, comandou o esquema para desviar vencimentos dos assessores do ex-marido, então deputado federal, do senador Flávio Bolsonaro (à época, deputado estadual) e do vereador Carlos Bolsonaro.

Cobrado pelo presidente a dar explicações, “Jacaré” negou ter testemunhado crimes e disse ter certeza que a família Bolsonaro não sabia de nada.

Apesar da tentativa de isentar o amigo, as declarações do ex-assessor incomodaram Bolsonaro, que escalou Flávio para rebater a publicação e tentar reduzir danos.

RESPOSTA DO FILHO

O filho mais velho do presidente gravou um vídeo pouco antes de embarcar para o velório da avó, Olinda Bonturi Bolsonaro, em qual leu uma nota na qual Jacaré diz que suas declarações foram deturpadas pela publicação.

Jacaré participou de todas as campanhas de Bolsonaro – eles se conhecem desde o tempo em que o hoje presidente era vereador. Ele fica sabendo quando Bolsonaro vem ao Rio antes mesmo de agenda oficial do presidente ser divulgada.

Segundo Veja, Jacaré descreveu o suposto esquema que Ana operaria.

Com poder para fazer uma cota de contratações dos gabinetes, nessa versão ela recolhia documentos de algumas pessoas, abria contas bancárias e lhes dava uma pequena parte do salário, ficando com o restante. Muitas vezes, os assessores seriam fantasmas.

Bolsonaro, segundo essa narrativa, de nada saberia.

Só teria descoberto, de acordo com Waldyr, quando o Estadão revelou a investigação já aberta. Waldyr também não participaria do esquema.

O Ministério Público do Rio, porém, suspeita que o esquema beneficiava os parlamentares. Há um processo sobre o caso, envolvendo Flávio, e uma investigação sobre Carlos. O presidente não está sob investigação e, no exercício do mandato, não pode ser investigado por fatos anteriores a ele.

“Ela fez (a rachadinha) nos três gabinetes”, disse Waldyr, segundo a Veja.

“Em Brasília (na Câmara dos Deputados), aqui no Flávio (na Assembleia Legislativa do Rio) e no Carlos. O Bolsonaro deixou tudo na mão dela para ela resolver.

Ela fez a festa. É isso. Ela que fazia, mas quem é que assinava? Quem assinava era ele. Ele vai dizer que não sabe? É batom na cueca. Como é que você vai explicar? Ele está administrando. Não tem muito o que fazer.”

Ainda segundo a Veja, Bolsonaro, quando soube do esquema, ficou “desesperado”.

“O cara foi traído”, afirmou Jacaré, segundo a revista.

“Ela começou tudo. Bolsonaro nunca esteve ligado em nada dessas coisas.

O cara (não) tinha visão do que estava acontecendo por trás no gabinete. Às vezes o chefe de gabinete faz merda, o próprio deputado não sabe. Mesmo o deputado vagabundo não sabe, só vem a saber depois.”

RECUADA DO VELHO AMIGO

Ao Estadão/Broadcast, porém, depois de ter recebido o telefonema de Bolsonaro anteontem, Waldyr negou conhecer qualquer esquema nos gabinetes da família.

“Tudo o que eu disse à jornalista da Veja eu li nos jornais, não é nada que eu tenha visto.

Eu vivi lá dentro e nunca vi esses esquemas de rachadinha”, afirmou.

Segundo ele, o presidente estava irritado ao telefone e disse que ele não deveria ter falado nada.

“Comigo nunca aconteceu (rachadinha) e tenho certeza que nem ele (Bolsonaro) e nem os filhos sabiam de nada. Nem sempre o que acontece nos gabinetes os deputados ou vereadores ficam sabendo”.

Quando o Estadão/Broadcast perguntou a Waldyr se ele tinha dito à repórter da Veja que, ao falar de Ana, citava noticiário de jornais, ele teve dificuldades para responder.

Não há, nas gravações divulgadas no site da revista, menção, por “Jacaré”, a noticiário da imprensa como fonte das informações sobre a rachadinha.

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