O BUG DA DÉCADA
O ano que estreou já contabiliza ganhos reais.
Mal começou e já recebemos, de bandeja, sem nenhum esforço ou merecimento, um ano extra.
De brinde.
Foi preciso que estudiosos do calendário gregoriano convencessem a mídia e todos os demais escravos do tempo que a nova década não se iniciou trasantontem.
Os anos 20 só serão elevados à categoria de década, no próximo ano.
Lástima para arautos do caos, analistas políticos e econômicos que já tinham prontos seus artigos sobre mais uma, entre todas as outras, década perdida.
Balancete a cada dez anos continuarão a ser feitos. Tudo é comparável com o que já era, nunca foi ou dificilmente será de novo.
Não importa que o tempo passe, voe ou mude as pessoas, seus hábitos e saberes. E traga muitas outros para dividir o mesmo prato e tudo o mais que se produz.
Os incipientes sinais de recuperação da economia são atribuídos à parte do governo que não se mistura com o resto.
Na atual administração, há um lado pink, aceitável, bem diferente do punk, execrável.
Atrasado, poluído, mal educado, miliciano, fascista, misógino, racista, homofóbico e amante das ditaduras. Merecedor até de outro impeachment.
No azylo muito louco, este transtorno dissociativo da personalidade pode ter se originado há vinte anos, com o bug do milênio.
O país vinha até bem sob o comando do professor sociólogo que dizem mas nada provaram, comprou o direito à reeleição. Mesmo que haja consenso quanto ao preço pago aos parlamentares.
Duzentos dinheiros.
Há vinte anos, o mundo esteve ameaçado por uma entidade etérea, destruidora das coisas modernas que estava para baixar em todos os computadores, aparelhos eletrônicos, aeroportos e terreiros.
Tão devastadora que seria capaz de teletransportar todos os valores depositados nos bancos, para o ano 1900. Em mil réis.
Não se sabe se as palestras, seminários, cursos, treinamentos ou se foram os estimados 7 bilhões de dólares gastos que tornaram, o país abençoado e bonito, território livre da ameaça global.
O senhor da razão desvenda a verdade por trás da quase extinção cibernética, com uma simples consulta ao almanaque-anuário.
Por hipnose e engano coletivo, a tragédia foi esperada com um ano de antecedência.
Quando o século XXI começou, de verdade, em 2001, ninguém se lembrava mais dele.
Há quem acredite que dos resquícios que evidenciam a passagem do bug Y2K pelo Brasil, as postagens do Carluxo são a prova maior.