23 de abril de 2024
Filosofia

DE NOVO, SOLIPSISTA

Das criadas pela inteligência dos humanos, a internet  é a entidade que mais modificou valores, costumes, e a vida das pessoas.

Ocupando o etéreo território da blogosfera, tem todas as respostas.

Uma plataforma em particular, atrai curiosos e insatisfeitos com as explicações das mais famosas enciclopédias digitais.

Um website é a aldeia onde habitam as soluções para dúvidas existenciais e incertezas.

Quora, a meca do saber, uma esfinge que decifra tudo e não devora ninguém.

Aberta, acessível, sem restrições e gratuita, funciona com regras simples.

A pergunta é postada e quem souber a resposta, escreve o que bem entender.

Não há filtros, nem censura.

Os próprios usuários fazem a edição.

Quem responde pode ser um expert no assunto, ou um farsante a se divertir com a ignorância alheia.

As bios ajudam, mas não garantem a confiança no material.

Os microcurrículos identificam os saberes e dão peso aos esclarecimentos.

Pode vir de um professor, na maioria ex, um curioso, físico, estudioso ou até um presidente da maior potência do mundo,  depois de deixar o poder.

Os filósofos fazem do pedaço, a praia onde mergulham no oceano do conhecimento, à procura dos tesouros afundados junto com os galeões que carregavam os mistérios da vida.

Alguns exageram, como se à procura de pergunta sem resposta, estivessem.

A uma delas, ninguém reagiu, deixando a interrogação solta no ar, sem teto para pousar na pista da Filosofia.

O Solipsismo é realmente irrefutável?

O que acham os queridos leitores?

Se a realidade está mesmo reduzida ao indivíduo que pensa, se o que importa são as próprias sensações, se os outros são meros coadjuvantes, sem existência própria, é de se concluir que não deveria restar dúvidas.

Doutrina filosófica sem patronos, o Solipsismo tem  sobrevivido desde os tempos pré-socráticos, sem discípulos que a transmitam às próximas gerações.

Praticada por monges  em clausuras, seus  adeptos vagam pelas ruas, vivendo de esmolas, presos por trás das grades das drogas alucinógenas, ou confinados nos pavilhões dos nosocômios psiquiátricos .

Não é difícil a identificação do solipsista brasileiro que foi mais longe.

O mais bem sucedido e poderoso.

Depois de 29 anos isolado na bancada do fundão, depois de  um único salto solo, e sem o paraquedas de um partido político de verdade, aterrissou no planalto central, numa selva  repleta de lobos vorazes.

Fechado em si, não mudou convicções, nem admitiu pensamentos divergentes, mas acatou suspeitas companhias.

Nunca  escondeu o desejo de ser o único a ditar regras e condutas.

A não aceitação da Ciência, o levou a  uma insana  busca por soluções mágicas e à crença  que tudo é natural, a ser resolvido pelo tempo, independente do preço pago em sofrimento e mortes.

Quem se dizia  ungido por Deus, agora preso na solidão do poder, reclama que sua vida transformou-se num inferno.

Solidão (1933) – Marc Chagall – Museu de Tel Aviv, Israel

(O Solipsismo foi, pela primeira vez, tema neste espaço, em 10/04/2021)

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