24 de abril de 2024
Comportamento

O NOVO GOLPE DO CARTÃO

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La Patisserie Gloppe, Champs Elysees, Paris, 1889 – Jean Béraud – Museu Carnavalet, Paris

Contam que no doce exílio em Paris, o Professor Fernando Henrique Cardoso descobriu a fórmula de passar bem, com orçamento apertado.

Procurado por colegas professores que faziam o sacrifício de viagem para  algum congresso ou estágio, na garantia de ascensão de alguns degraus na escada acadêmica, sempre arranjava uma oportunidade de marcar um jantar.

Em restaurante nunca frequentado somente na companhia de Dona Ruth.

A tática nunca falhava e só veio a ser conhecida, quando um peregrino repetiu o caminho da Île-de-France e acabou pagando a conta ainda mais salgada que no primeiro  encontro com o futuro Ministro da Economia.

A mesma nota de mil francos, já meio amarelada de tanto uso, única na carteira do intelectual despojado que fazia questão de não rachar as dolorosas, foi mais uma vez devolvida pelo garçom.

Num tempo em que cartões de crédito nem existiam, l’addition sobrava para o conviva pagar com cheque de viagem.

A pandemia trouxe novos hábitos e variadas maneira de se efetuar desembolsos.

Enquanto  alguns países já anunciam as datas em que deixarão de imprimir em papel  e cunhar moedas, as pessoas perceberam que o fim do dinheiro, são cédulas contados.

Desde a última emissão da Casa da Moeda, o lobo guará pouco circulou. Não teve chance de ser domesticado, nem ao menos, um nome carinhoso recebeu.

Os duzentos paus continuam sendo trocados por duas garoupas, mas a preferência nacional mesmo, é pela onça, que caiu no gosto e no bolso do povo.

O celular continua na trajetória vitoriosa de transformar tudo  em peça de museu e substituir as funções com muito mais eficiência.

Há sempre uma novidade para atualizar no software dos telefones sabidos.

Valores são transferidos e o dinheiro troca de mãos e algibeiras num pix de olhos.

Este ambiente econômico também é propício e perfeito para a ação de vivaldinos que nunca rompem a amizade com o alheio.

Golpes se repetem, alguns tão manjados que é difícil acreditar que alguém ainda peça para pagar um boleto por conta do encerramento do expediente do homebanking. Que funciona 24h e não fecha nem na terça-feira gorda.

O trambique mais novo, ainda inédito no Programa do Papinha, é fundado na boa fé e na confiança entre amigos.

Desconfie de um chapa, companheiro das caminhadas matinais, que insiste no convite para um café depois do quarto de maratona dominical.

Ele diz que o carro vai ficar aos cuidados do flanelinha, para  pegar carona para a padaria chic, recém-inaugurada,  no outro lado da cidade.

Experimenta de tudo do self e ainda pede da cozinha regional à la carte, sem deixar  de comparar com as delícias da infância agresteira.

Antes  de sacar o cartão pagador ainda escolhe uma cesta de pães “para agradar a patroa”.

O lance só se completa quando a mocinha do caixa informa que ainda não estão aceitando Cartão Riachuelo.

Não tem erro.

O convidado nunca vai deixar o amigo  passar vexame.

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Gamão no Café (1909) – Jean Béraud – Sotheby’s, Nova Iorque

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