25 de abril de 2024
Solidariedade

O POVO NAS RUAS

30ABC38D-F71E-48C3-9A11-0DCF754BF1AAEm Paris,  a prefeitura foi bem longe. No rigoroso inverno de 2018, sem outra alternativa burocrticamente viável, abrigou em dois salões da sua sede, o Hôtel de Ville,  cem moradores de rua.
De atitude mais significativa, não se tem notícia.

Como para resolver o gigantesco  problema social, cada família levasse para casa uma pessoa que  passa as noites frias e chuvosas ao léu, sob marquises e nos bancos das praças.

O ato da prefeita Anne Hidalgo não ficou marcado como uma arrojada jogada de marketing político e pessoal.                          

Seguindo seu exemplo, em pouco tempo, mais de 1500 abrigos temporários foram abertos na França. Sem licitações, nem dispensas de.

Somente movidos a compaixão.  E vontade.

Prédios públicos desocupados ou subutilizados acolhendo e salvando vidas dos cidadãos que donos de todas as ruas do mundo, incluída a Champs-Élysées, a mais famosa de todas, não tinham onde dormir com o mínimo de dignidade.

O Papa Francisco no final do ano passado reuniu 1500 sem teto para um almoço em comemoração  à Jornada Mundial dos Pobres. Em outras ocasiões, os desabrigados de Roma já haviam sido recebidos no Vaticano.

Não ficou nos gestos.

Neste pontificado, foi instalada, entre uma capela  e um museu, uma lavanderia para a população carente.  E os mais necessitados têm direito a bônus para receber medicamentos na farmácia da cidade-estado.

Na maior e mais rica capital brasileira, uma área degradada é a lândia mais conhecida do país.

Tem vida e regra próprias que não são as mesmas do resto da sociedade e por isso, as soluções, sempre amparadas pela força (bruta) policial falharam.

Quando a miséria se mistura com dependência  e tráfico de drogas, o problema parece insolúvel.

Em Natal, não é diferente.

Nem desiguais são os olhos  dos que fingem nada ver.

Só despertamos da letargia quando  a cracolândia ou o alcoolódromo se instala no dobrar das nossas esquinas.

Grupos de etilistas reúnem suas histórias e desencantos, juntam-se  em pequenos grupos e ocupam  lugares públicos onde encontram algum abrigo.

Dividem o que têm e o que bebem.

Nos bairros residenciais, sobrevivem das sobras dos abastados. E dos perdões que transbordam nas lixeiras.

AAEA2642-703F-448E-AB98-C05633DD00C6Assistidos pelo Serviço Social, Consultório na Rua, pela ação de grupos religiosos e de voluntários, têm recebido ajuda mas o destino é bem maior do  que tudo que lhes oferecem.

Quando levados para abrigos, não se adaptam às regras, feitas para o outro mundo que já não habitam há muito tempo.

Não se espera que a prefeitura  transforme o Palácio Felipe Camarão em hospedaria.

Nossa rive droite é bem mais embaixo.

Ação zero, ação zero-um e primeira ação.

Aluguel social.

A ser administrado pelo líder de cada grupo.

Depois, as demais abordagens, condutas e tratamentos.

Desabrigados pelas chuvas já recebem.

Por que não estender também aos outros?

Ao relento.

Ao desalento.

Igualmente.

Desabrigados.

Pelo calor inclemente.               

Pela falta de calor.

Desumano.

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