O SUMIÇO DA MUSA
No baú de memórias que Woden Madruga abre aos domingos na Tribuna do Norte, a revelação de uma estória de amor, com início, meio, fim e versos.
Médico e professor, Esmeraldo Homem de Siqueira é o autor do poema que causou uma reviravolta na vida de uma sua aluna, adolescente, 21 anos mais nova que ele.
Conhecido pelo uso da poesia para críticas aos poderosos, era visto como por demais gauche para os padrões do pós-guerra.
As más e ferinas línguas diziam que por trás das belas páginas parnasianas que publicava, havia um comunista em formação.
Estavam certas.
O pernambucano de Caruaru que tendo feito meia fortuna em Campina Grande, veio investir na incipiente indústria potiguar, pensou igual.
Do tempo e das preocupações divididas entre os negócios fabris na Guarita e os agopecuários nas terras ariscas do Cariri paraibano, sobrava um tanto, para acompanhar, de perto, o desempenho dos filhos na escola.
Quando soube que o professor de Francês andava demonstrando um interesse especial por determinada aluna, e que esta era uma das suas filhas, redobrou a vigilância.
Passou a acompanhar nas páginas literárias dos jornais, todas as prosas e com especial atenção, as poesias românticas.
Percebeu logo que todo aquele afeto que transbordava das estrofes, tinha endereço certo.
Mesmo sabendo que o sentimento não encontrava a menor receptividade, tratou de separar o mal da raiz.
A melhor educação para os filhos, havia sido a razão maior para a ousada mudança com a família que não parava de crescer.
Era chegada a hora de ir mais longe. E da filha mais velha terminar o ano letivo no Recife.
Morando em casa de parentes, a meca para onde peregrinavam os jovens com sede de saberes maiores que os que brotavam nestes tabuleiros e morros de areia, abriu horizontes e possibilidade para outra estória.
Com outro menestrel.
Das poucas alunas do curso dos mais invejados, não demorou a aparecer, entre os colegas, um novo admirador.
Sertanejo paraibano, com a mesmas origens na aristocracia rural, a aceitação pelo futuro sogro foi de gosto.
Estrategista e bom observador da geopolítica e das tendências dos negócios, ajudou a instalar os jovens advogados na cidade Rainha da Borborema.
No meio do caminho das longas viagens que fazia, com frequência, por estradas e veredas de barro batido, agora tinha pouso e descanso.
Este pedaço da história de uma vida longa e bela, relembrado pelo genro indiscreto, foi magistralmente registrado pelo poeta resignado.
SEM AMOR
É morena,
É das mais formosas que já vi
Tem um narizinho delicado
Boca breve, de alvos dentes
Olhos negros e colo de juriti
Gosta de prosar comigo
De elogiar-me demasiado
A verve de bom conversador
Sua expressão, invariavelmente séria
É a de quem ouve atento um professor
Muito respeito, é certo
Grande admiração
Mas, nem sombra de amor…
***
(Publicado em 15/06/20)
Por trás dos retratos:
Adele Bloch-Bauer nasceu em uma família burguesa respeitável, seu pai era o gerente geral da União Bancária de Viena. Aos 18 anos, ela se casou com um conhecedor de arte e produtor de açúcar chamado Ferdinand Bloch-Bauer, que era bem mais velho do que ela.
Adele posou para quatro pinturas icônicas de Gustav Klimt. A mais famosa, o “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”. Esse trabalho também é chamado de “Woman in Gold” e “Mona Lisa da Áustria”.
Uma história acompanha esses retratos: o marido de Adele estava convencido de que havia um caso entre sua esposa e Klimt. Para que o amor do artista por sua musa esfriasse mais rápido, Bloch-Bauer encomendou um retrato dela, esperando que ao estar perto de Klimt, ele rapidamente se cansasse da musa inspiradora.
O artista trabalhou em sua obra durante 4 anos, criando cerca de 100 esboços para o retrato. E se ele tinha algum tipo de relacionamento com Adele, ao longo desse tempo, acabou.
Fonte: Incrível.clube
