25 de abril de 2024
Amor

O SUMIÇO DA MUSA

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No baú de memórias que
Woden Madruga abre aos domingos na Tribuna do Norte, a revelação de uma estória de amor não correspondido. Com início, meio, fim e versos.

Médico e professor, Esmeraldo Homem de Siqueira é o autor do poema que causou uma reviravolta na vida de uma aluna, adolescente,  21 anos mais nova.

Conhecido pelo uso da poesia para críticas aos poderosos, era visto como por demais gauche para os padrões e a  política provinciana do pós-guerra.

As más e ferinas línguas diziam que por trás das belas páginas parnasianas que publicava, havia um comunista em formação.

Estavam certas.

O pernambucano de Caruaru que tendo feito meia fortuna em Campina Grande, veio investir na incipiente indústria potiguar, pensou igual.

Do tempo e das preocupações divididas entre os negócios fabris na Guarita e os agopecuários nas terras ariscas do Cariri paraibano, sobrava um tanto, para acompanhar, de perto, o desempenho dos filhos na escola.

Quando soube que o professor de Francês andava demonstrando um interesse especial por determinada aluna e que esta era  sua filha, redobrou a vigilância.

Passou a acompanhar nas páginas literárias dos jornais,  todas as prosas e com especial atenção, as poesias românticas.

Percebeu logo que todo aquele afeto que transbordava nas estrofes tinha endereço certo.

Mesmo sabendo que o sentimento  não tinha a menor receptividade, tratou de separar o mal da raiz.

Perspectivas de fundar uma inovadora indústria, melhor educação para os filhos e a fama do Atheneu Norte-Riograndense tinham sido as razões  para a ousada mudança com a família que não parava de crescer.

Era chegada a hora da filha mais velha ir mais longe. E terminar o ano letivo no Recife.

Morando  em casa de parentes, a meca para onde peregrinavam os jovens com sede de saberes maiores que os que brotavam nestes tabuleiros e morros de areia, abriu horizontes e possibilidade para outra estória.  Com outro menestrel.

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Das poucas alunas do curso dos mais invejados, não demorou a aparecer, entre os colegas, um novo admirador.

Sertanejo paraibano, com as mesmas origens na aristocracia rural, a aceitação pelo futuro sogro foi de gosto.

Estrategista e bom observador da geopolítica e das tendências dos negócios, ajudou a instalar os jovens advogados na cidade Rainha da Borborema.

No meio do caminho  das longas viagens que fazia  por estradas e veredas de barro batido, agora tinha pouso e descanso.

Este pedaço da história de uma vida longa e bela, relembrado pelo genro indiscreto, foi magistralmente registrado pelo poeta resignado.

SEM AMOR

É morena,

É das mais formosas que já vi

Tem um narizinho delicado

Boca breve, de alvos dentes

Olhos negros e colo de juriti

Gosta de prosar comigo

De elogiar-me demasiado, a verve de bom conversador

Sua expressão, invariavelmente séria

É a de quem ouve atento um professor

Muito respeito, é certo,

Grande admiração

Mas, nem sombra de amor…

One thought on “O SUMIÇO DA MUSA

  • Geraldo Batista de Araújo

    Bem posto o texto sobre o Prof. Esmeraldo Siqueira, uma figura ímpar. Quando O Reitor Genário Fonseca inaugurou o Campus Universitário, Esmeraldo me disse: Cenário foi meu aluno quando era sargento. Agora construiu esse Campus no fim do mundo só para me prejudicar, pois ele sabe que eu não tenho automóvel, você sabe que é verdade, concorda? Plenamente. Nunca discuti com doido e agora não discuto com petista.

    Resposta

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