29 de março de 2024
Governo

OPERÁRIA-PADRÃO

A Caipirinha (1923) – Tarsila do Amaral – Coleção particular, quadro vendido em leilão, em 2020, por 57 milhões de reais

 

As melhores práticas da administração eficiente, aliadas às necessidades impostas pela pandemia, fizeram o reconhecimento, que já tardava, do regime de trabalho desenvolvido por  extensa parcela do funcionalismo público.

Pessoas que se dedicam a vida toda ao serviço do Estado, mas precisam de espaços mais amplos que um birô de repartição para desenvolver todo o potencial.

Tudo que precisam é de total liberdade para trabalhar na rua, no mercado futuro de votos; uma agenda vencida – cheia de papéis soltos –  um celular, muita lábia e um padrinho forte.

Com força e estímulo, para depois da próxima eleição, descolar um cargo comissionado ainda melhor.

Daqueles que dispensam assinatura de ponto e comparecimento presencial.

Já houve um tempo, e não faz muito, em que trens da alegria passavam lotadíssimos, em frequência regular, pela Estrada de Ferro RN Railways.

Pontualmente, de dois em dois anos.

Antes da Constituição de 1988, emprego público só eram conseguidos por esta via democrática, do QI.

Sem qualquer prova, nem de títulos,  sortudos recebiam uma extensa lista de exames pra fazer e um aviso: indispensável a avaliação pelo médico-perito.

Em prazo curtíssimo, para dar tempo da publicação no Diário Oficial, antes da proibição, segundo o calendário eleitoral.

Estava iniciada a corrida.

Salve-se, ou nomei-se, quem puder.

Na junta médica, três médicos para atender todas as necessidades para a nomeação da legião de desempregados.

E gente entrando, literalmente, pela janela da repartição superlolotada.

Tudo pelos três valiosíssimos autógrafos. Que ninguém era insano de negar.

Uma senhora que havia feito todo o esforço para provar, ao assumir o emprego, que gozava  de boa saúde, e perfeitas condições físicas e mentais (assim rezava o laudo), estava de volta em pouquíssimo tempo.

Daquela vez, para  afastamento do trabalho, dizendo-se com a saúde em frangalhos.

Havia aprendido logo as regras para  jogar na equipe titular.

Já entrou na sala  declamando o mantra, repetido por onze entre dez frequentadores assíduos do serviço:

Doutor, a gente morre e o Estado fica!

Operários (1933) – Tarsila do Amaral – Acervo Artístico-Cultural do Governo do Estado de São Paulo

     (Tema de 08/05/2019, revisto e ampliado)

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