ORA DIREIS, OUVIR AS RUAS
Perdemos o senso.
As imagens de praças, parques e praias lotadas falam com muito mais de mil palavras.
Até visita ao mais famoso infectado, ainda em quarentena, foi registrada.
Imagine que os invasores são alienígenas e nossa inteligência pudesse dialogar com a deles.
Certamente estariam incrédulos com o que veem (a não ser que tenham um sentido mais aguçado que a visão).
Pensariam como somos limitados, irresponsáveis e inconsequentes.
Quando conseguimos algum espaço, nesta ladeira descendente, para voltarmos para a segurança da planície antes ocupada, eis que os mais fortes, os mais jovens combatentes, aceitam o jogo do adversário.
E ficam à mercê da sua tática de maior êxito.
Ataques às aglomerações, com bombas de efeitos tardios que só explodem em 14 dias.
As ruas falam.
Urge, ouví-las.
(Publicação original em 20/07/2019)
AMIGOS NA PRAÇASem dinheiro em caixa (um dia ainda conto porque e por quem), fui à praça ver se encontrava algum amigo.
O provérbio reza que vale mais.
Na cidade maior, para as efemérides alusivas ao natalício do caçula, não adiantou, o relógio biológico bateu o carrilhão, sem atraso.
A caminhada matinal é convidativa. O lugar, bem frequentado. Aparentemente seguro. De calçadas largas. E limpas. Até sem cocô das Fifis.
Faltava alguma coisa. Ou alguém. Pra conversar. Pra ouvir.
Antes das seis, as conexões cerebrais da área de Broca estão a mil.Efeito remanescente da água de chocalho bebida na primeira infância.
Ainda na estrada real do poço, caminho que levava dos balneários do Capibaribe aos engenhos da casa forte, desacelero o ritmo, para tentar ouvir o que se falava num grupo em movimento.
Quatro ou cinco pessoas com pelo menos uma década (vá lá, meia) à frente das que já contei. Só deu pra saber a profissão e a condição financeira do apressado falante.
Bastou ouvir apenas duas palavras: filtração glomerular.Fisgadas da explicação de alguma doença. Nenhuma dúvida que é médico.
Aposentado, muito óbvio. Nefrologista.
Deve ter filhos. E genros. E noras. Todos da mesma especialidade, Dr. Livingstone presumiria.
(Nem só o capitão e todos os outros políticos são nepotistas).
Sócios de máquinas que dializam, moem e tilintam.
Aposentadoria mais doce, nem Rogério Marinho azeda.
O ambiente geopolítico precisava também ser explorado. E foi.
Com mais evidências que as esperadas.
A cidade é bem definida politicamente. E o bairro, fundado por senhores de engenho e ocupado pelazelites?
Se a praça adota a mão inglesa, o engenheiro do caldo de cana tirou qualquer dúvida. O que disse para o porteiro do edifício em frente, o forasteiro ouviu. Que um tal juiz é o que o deputado Glauber Braga afirmou que aquele outro era. Foi muito rápido, o entreouvido.
Fiquei sem saber se o Santa foi garfado. Ou se teria sido o Sport.Na saída, a praça também é guache . No gradil da mansão elegante e bem conservada, a faixa com letras garrafais na fonte Pitú 51, pede liberdade.
Nem em tese. Nem ampla. Nem irrestrita. Somente para ele. E anuncia que ali funciona um comitê de Luta livre.Recife merece visitas mais amiúde.
Mesmo que seja só para auscultar o coração do Nordeste.