25 de abril de 2024
Familia

ORGULHO QUE NÃO CABE NO PEITO

 

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Segunda Classe (1933) – Tarsila do Amaral


A volta das reuniões familiares e a retomada das conversas sem intermediários eletrônicos, revelam a força afetiva guardada num baú de recordações.

Fotos que nunca tiveram cor, desbotadas.

Fragmentos de bilhetes. Cartões com dedicatórias de presentes que já não se sabe quais são. Registros de datas que marcaram vidas.

Estórias dos que partiram antes, mas deixaram a melhor herança.

O sentimento que não se mede em palavras,  em viagens no tempo.

Elas insistem em se vestir de saudade, fantasiadas no orgulho pelos filhos que haverão de nos superar.

Quem nunca espalhou a todos os ventos,  as façanhas, peripécias e conquistas dos pimpolhos?

Alguns criaram fama,  passaram às  gerações seguintes, o esplêndido berço onde não deitaram.

Motivos de inveja e chacota mas nenhum parente vai esquecer de lembrá-los.

Seus pequenos artistas, como o logorreico papagaio que ficava mudo quando levado aos programas de auditório, nunca repetiam os fenômenos, ao vivo.

O menino ainda nem sustentava a cabeça e diziam, fazia tantas estripulias que já dava pra trabalhar no Circo Nerino.

Essas crianças completaram todas as fases evolutivas,  entraram na puberdade e passaram pela adolescência,  sem turbulências nem mares revoltos.

Vestibular ou qualquer outro funil, aprovados de prima volta. Nos cursos mais concorridos, no primeiro semestre. Nas federais.

Formados, bem sucedidos desde o estágio curricular. Daí para trainees e gerentes gerais, são dois pulos.

E nenhum parente ou aderente deixa de saber das promoções, progressões e níveis do plano de cargos.

Tudo seria muito perfeito se não sobrasse para os outros. Os primos normais.

Que fizeram xixi na cama, até depois dos cinco. Ameaçaram sair de casa aos 14. Tiveram dúvida se queriam ser mesmo baterista de banda de rock. Ou surfista profissional.

O que antes era propagado por cartas e bilhetes, hoje corre na velocidade da luz, do Facebook e do Instagram.

A saga não acabou,  sobrevive à pandemia e pelo jeito, terá muitos outros capítulos..

As novas fornadas recebem muito mais lenha para manter aceso o fogo da pequena vaidade.

São trombetados cursos no exterior, mestrados, doutorados, pós-docs.                                           

Essa turma ainda vai longe, aguardando melhores tempos e novas oportunidades, para  viagens maravilhosas, festas deslumbrantes de casamento e outras novas formas de se relacionar.

Apesar de todas as restrições, como ainda sabem celebrar a vida!

Aquela tia-avó que conseguiu  atingir a perfeição no marketing da prole, transmitiu o método aos netos e bisnetos.

Mesmo passados mais de sessenta anos, quando alguém posta uma dessas pabulagens filiais, o comentário no grupo familiar é automático: 

Ave, Tia Clarinda!

(Revisita à publicação original de 14/07/2019)


F955B4F9-CD10-4734-A469-54E0D555E054A Família (1925) – Tarsila do Amaral

One thought on “ORGULHO QUE NÃO CABE NO PEITO

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