18 de abril de 2024
Opinião

Os 15 dias que revelaram a inépcia para ser Presidente

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Cassiano Arruda Câmara – Tribuna do Norte – 29/04/20

O governo de Jair Bolsonaro é conduzido sob o signo de Tânatos, o deus da morte na mitologia grega. Dedica-se desde sempre à destruição – primeiro dos inimigos, reais e imaginários; depois dos próprios aliados, inclusive ministros que lhe devotavam lealdade; e, afinal a si mesmo, inviabilizando-se como presidente. É preciso interromper essa escalada, antes que Bolsonaro destrua, por fim, o próprio país.

Do editorial do jornal O Estado de S..Paulo, edição de último sábado.

Nesse canto de página, desde o dia 15 de abril, última publicação deste artigo semanal, o primeiro parágrafo do Editorial do Estadão foi a melhor síntese que encontramos para retratar o que aconteceu no Brasil nas últimas duas semanas.

Em plena Panemia, a mudança completa da cúpula do Ministério da Saúde, cujo trabalho vinha sendo reconhecido e elogiado pela maioria da população foi só o começo desse quase fim. E por último a perda do ex-juiz Sérgio Moro, que comandou a Operação Lava Jato por quatro anos, e que representava um ícone na luta contra a corrupção, como Ministro da Justiça e Segurança Pública.

PERIGO DE FAZER BEM FEITO

O ex-ministro Henrique Mandetta começou a perder prestígio com o Presidente da República a partir de duas constatações:

1 – Ele vinha conseguindo realizar um bom trabalho preparando o Brasil para enfrentar uma pandemia global, cujo ataque do coronavírus começava a ser conhecido e mapeado, além sua maneira de atacar, assim como o que era possível fazer para arrefecer os seus efeitos, de acordo com experiências exitosas de outros países;

2 – Mandetta havia conseguido estabelecer um nível de comunicação invejável com a população, a partir de um modelo chato de entrevista coletiva à imprensa, falando a verdade e dando transparência a situação com informações dadas na hora pelos dirigentes dos diversos setores do seu Ministério.

Foi o suficiente para que o Presidente da República tivesse um ataque de ciúme estabelecendo um não imaginável conflito. Reação porque não era o Chefe de Estado quem anunciava os fatos do dia e as providências tomadas no principal assunto tratado pelos meios de comunicação.

SEM O SELO DE QUALIDADE

Na formação do ministério, nenhum fato teve mais impacto do que o convite feito ao juiz Sérgio Moro, e – sobretudo – pelo convite ter sido aceito, com o Presidente da República se encarregando de divulgar que estava entregando a Moro o super Ministério da Justiça e Segurança de porteira fechada: ”Não vou interferir em absolutamente nada que venha ocorrer dentro da Justiça no tocante a esse combate à corrupção…Ele vai indicar todos que virão compor o primeiro escalão, inclusive o chefe da PF” (JMB em 1/11/2018).

Moro emprestava ao Governo Bolsonaro um “selo de qualidade” de quem havia se tornado um herói nacional por ter aberto as portas da cadeia para receber alguns dos maiores empresários brasileiros e políticos de destaque, além de executivos da administração pública roubando os cofres públicos, com foi feito com provas em relação a uma ação de saqueadores que havia chegado à Petrobrás, em pleno delírio das descobertas do pré sal.

PRONTO PARA DECOLAGEM

Um Presidente da República eleito com 57 milhões de votos que não havia participado de nenhum debate, e acertou ao se colocar contra os 12 anos de Governo do PT, e assumia bandeiras da direita, que estavam escondidas do povo desde o fim dos governos militares, não precisou fazer discursos ou comparecer a programas de tv para convencer a maioria do eleitorado que já havia decidido votar contra.

Bolsonaro se apresentou, finalmente, aos brasileiros formando um ministério de boa qualidade, conquistando a confiança de muitos, inclusive que haviam votado nele.

E ainda aproveitou para ressaltar que tendo sido eleito sem contar com grandes estruturas políticas estava livre para executar uma nova fórmula de fazer política, prometendo uma nova maneira de conviver com o Congresso.

Nas últimas duas semanas, o próprio Bolsonaro se encarregou de mostrar que a realidade não era bem assim, sobretudo depois de um pronunciamento através uma cadeia de tv, no horário que havia sido criado por Mandetta, no fim da tarde, para responder ao ex-ministro Moro.

CAVANDO A SEPULTURA

Se existiam dúvidas, o pronunciamento de Bolsonaro serviu para revelar a inépcia do Presidente da República para o exercício do cargo; ele próprio colocando-se sob suspeita, numa hora em que a sociedade brasileira se mostra dividida, como atesta a última pesquisa Datafolha, sobre o destino do Chefe do Governo.

No meio de grande intranquilidade, melhor recorrer ao mesmo “O Estado de S. Paulo”, que deu a palavra ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para falar sobre o momento que estamos vivendo:

“O Presidente está cavando a sua fossa. Que renuncie antes de ser renunciado. Poupe-nos de, além do coronavírus, termos um longo processo de impeachment. Que assuma logo o vice para voltarmos ao foco: saúde e emprego. Menos instabilidade, mais ação pelo Brasil”

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