19 de abril de 2024
ArteMemória

OS JOGADORES DE CARTAS

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Os Jogadores de Cartas (1895) – Paul Cézanne – Museu de Orsay, Paris


Finda a guerra da qual o Brasil participou dos momentos finais, logo em 1946, dois acontecimentos marcantes podem ser atribuídos a uma mulher com jeito de matrona. E seguramente, mandona.

São atribuídos a Dona Santinha Dutra, primeira-dama e principal conselheira do Marechal Dutra, o banimento do Partido Comunista e a proibição dos jogos de azar.

Desde então, o partidão recebeu uma preposição, e virou modelo para tudo muito semelhante com o original, mas tocado no lado B.

Quanto à jogatina, a polêmica nunca deixou de ser motivo de acirramento de ânimos, mesmo depois que as bancas se mudaram para os paraísos eletrônicos, livres de impostos e do assédio dos pedágios para-oficiais.

Alguns, os da boa sorte legal,  estão aí,  arrecadando dinheiro para o governo, sem causar males aparentes e não mais sendo questionados.                      

Viciados numa fezinha, enfrentam longas filas e gastam uma boa parte dos salários só para não perder o direito de sonhar.

Com uma bolada da mega, quina, timemania, lotofácil e outros menos sortudos.

Jovens bons em matemática trocam os cursos de graduação pela promissora profissão de jogador de poker. Online.

A proibição não evita mais nada. Cada notebook uma roleta; todo smartphone um slot.

Houve um tempo  que legalizados ou não, salões de carteado  funcionavam livremente.

Mais honestos que os grandes cassinos, que cientificamente, determinam por antecipação qual o percentual de lucro de cada equipamento, sem dar bolas para a urucubaca.

A casa era o valor cobrado pelo banqueiro para as despesas de manutenção das salas, mesas e baralhos. Sempre novos.

Cafezinho e alguma regalia, mantinham a clientela cativa. E acordada.

O valor das apostas selecionava os contendores pelo poder gastativo. Os adversários escolhidos entre os próprios atletas.

Na falta de quórum, jogadores profissionais podiam ser acionados, sem prejuízos para as apostas.

Cabreiro, era profissão reconhecida. Sem direito a assentamento na carteira profissional.

Nos fundos do bar, num recinto sem ventiladores e de janelas semi-fechadas, para que o vento não revirasse tudo, o calor e o frio eram regulados pela emoção da carta chorada, que vinha ou teimava em não vir.

No tempo em que o pif-paf era chamado de relancinho, dos notáveis da paróquia, só o padre não era praticante. Mas nada impedia que vez por outra aparecesse um vigarista.

A sequência de rodadas naquele começo de noite foi subitamente interrompida pelo moleque de recados.

O único médico da cidade, com o jogo armado e a sorte promissora, ao saber que estava sendo aguardado com urgência no hospital, esbravejou:

Isso lá é hora de se quebrar braço!

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Os Jogadores de Cartas (1892) – Paul Cézanne – Barnes Foundation,  Filadélfia

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Os Jogadores de Cartas (1892) – Paul Cézanne – Museu Nacional do Catar

(Um dos cinco quadros de Cézanne com o mesmo título, adquirido em 2011, por 250 milhões de dólares, o mais caro da História, até então)

 

One thought on “OS JOGADORES DE CARTAS

  • Geraldo Batista de Araújo

    Quando José Varela era governador estava num banquete oferecido a ele pelo prefeito. Chegou um cidadão procurando pelo prefeito que era médico para atender sua mulher em trabalho de parto. O prefeito disse que não poderia atender
    O governador, também médico foi atender e fez o parto sem problemas.

    Resposta

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