OS NOVOS TIRANOS
Entre modernidades, pedagogos e psicólogos sociais têm se dedicado a assunto tão arcaico quanto as relações pais e filhos.
Que parecem as de sempre, renovadas, geração a geração,mas que não permanecem tão iguais assim.
Afirmam que o rei e a rainha abdicaram dos seus tronos e agora são outros, os novos regentes do lar.
Suas majestades as crianças.
Em número cada vez menor, tendendo ao modelo chinês, do filho único, é fácil saber porque.
Uma rápida pesquisa e a respeitável cifra de dois milhões de reais.
É quanto um casal deverá gastar (ou investir) nas despesas de um recém-nascido, até que atinja os 23 anos, idade fixada para o corte definitivo do cordão umbilical.
Isso se não emendarem logo na turma da geração canguru. E permaneçam debaixo das asas dos pais per omnia saecula saeculorum.
No regime de governo da pedocracia, a superproteção é incubadora. A negação do não, o nestogeno a nutrir os pequenos déspotas.
Em famílias mais conservadoras, o poder permanece onde e com quem sempre esteve. Bem verdade, um pouco mais aberto, democrático e compartilhado.
Os putos (estes textículos são lidos no Funchal) ocuparam seus espaços e se fazem ouvir sem medos.
Casal de médicos, família convencional (pai homem, mãe mulher e filhos cisgêneros), bem ocupados e tendo de manter atualização nas especialidades, viajam com frequência para congressos e similares.
A notícia de mais uma ausência disparou no de cinco anos, interrogatório digno de uma tropa de choque de CPI.
– Já vão tirar férias de novo?
Para mais longe, em romaria mais demorada.
Explicaram o motivo e a necessidade de repouso e um pouco de distância da vida atribulada que levavam.
Como um parlamentar do centrão que votou a favor da reforma trabalhista, o miúdo apresentou seu projeto de lei:
– Descansem no fim de semana.
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“Para compreender os pais é preciso ter filhos.”
(Sófocles)
Stephen Gjertson é um pintor do realismo clássico norte-americano, nascido em 1949, em Minneapolis, Minnesota.
(Texto publicada em 21/06/2019, com alterações)