24 de abril de 2024
Comportamento

OUTRA, QUINTANA

61800453-3EE0-4301-AB77-A34ED5D8F88FSem musas, sem nunca ter casado, sem filhos, o maior poeta gaúcho não deixou de escrever sobre relacionamentos.

Falava das coisas simples.

Dizia que as leves são as únicas que o vento não pode levar.

Como um cheiro que o próprio vento tinha.

Não se conheceram mulheres a quem tenha dedicado versos. Mas deixou  dúvidas e enigmas a serem desvendados.

Senhora, eu vos amo tanto                   Que até por vosso marido                      Me dá um certo quebranto.

Preservava a amizade que via como o amor que nunca morre.

Mas era exigente com os amigos que os queria discretos.

Não te abras com teu amigo                Que ele um outro amigo tem.                   E o amigo do teu amigo                    Possui amigos também…

Aos descendentes que não teve,  deixou uma coleção de livros infantis que têm acalentado os filhos e netos dos outros.

Quando guri, eu tinha de me calar à mesa: só as pessoas grandes falavam. Agora, depois de adulto, tenho de ficar calado para as crianças falarem.

Vinte e cinco anos depois da sua morte, o jornalista e poeta, continua sendo lembrado, reeditado e citado.

Referência de vida simples e rica. Para quem, apesar das dificuldades e de tudo que não viveu,

Vale a pena viver. Nem que seja para dizer que não vale a pena…

Não é difícil imaginar quantas outras observações seriam transformadas em poemas e frases imortais se o convívio pudesse ser possível com as crianças de hoje.

As do seu tempo, diferentes das do tempo da infância no Alegrete já estavam fadadas à independência precoce dos livros e obediências de outrora, por influência das revistas em quadrinhos.

As contemporâneas, que nem gibis curtem mais, hipnotizadas pelos desenhos animados, sites, streaming, weblogs videoblogs e outras ferramentas que a diferença de gerações não permite acompanhar, como seriam vistas pelo solitário das  pensões e hotéis de Porto Alegre?

E se netos  tivesse tido e estes pudessem mostrar situações impossíveis de serem criadas pela imaginação mais fértil.

Como da reunião de pais e mestres na escola do pequeno vivente de quatro anos.

A maioria (ruidosa) de mães discutia com professores, todas mulheres, quando o ambiente de predomínio feminino foi maculado pela abertura abrupta e sem batidinha na porta, de um piá, aluno do quarto estágio do curso pré-primário que foi logo anunciando, em voz alta e quase grossa, o objetivo daquela invasão e a convicção como a  fazia.

Está chovendo e ninguém vai me tirar daqui de dentro.

Bastou o olhar fulminante da genitora para que o destemido invasor saísse com o rabo entre as perninhas, antes mesmo de ouvir a ordem unida.

Já pra fora, seu cabra.

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