19 de abril de 2024
futebol

PAIXÃO RECOLHIDA

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Sobreviveu ao VAR mas corre grande perigo sem o calor das torcidas.

E não adiantam as gravações da algazarra das arquibancadas. Não escondem a falsidade.

Ficam parecendo com aquelas dublagens mal feitas de vovozinha imitando criança na sessão da tarde.

O futebol anda tão sem graça (as notícias mais importantes são as de jogadores testados positivos) que o timaço do Dom Diniz FC ainda não retornou aos treinamentos.

Só volta aos gramados depois da vacina ou quando o rebanho passar.


(Publicação original em 28/09/2019)

COMPRA-SE CEBOLINHA

Que o futebol é apaixonante, todos sabem e concordam. Nos quatro cantos deste mundo esférico como uma bola.

Ainda não se tem certeza é quando o cupido lança  a primeira flecha que deflagra o idílio.

Pode ser na maternidade,  na plaquinha na porta, com o nome do recém-nascido e o escudo do time do papai.

Ou quando chega o tio que vai ser o boa-praça a levar o futuro torcedor aos estádios.

Com a camisa do adversário.

O interesse pelo ludopédio vai aumentando nos primeiros passos  e se o rebento tiver pinta de craque, já troca as fraldas pelo uniforme da escolinha.

Para embalo dos sonhos do neymarzão,  assinando contrato com o Barcelona.

O primeiro álbum de figurinhas sela de vez a fidelidade ao esporte preferencial para a vida toda.

Os modismos vão e voltam.

O apego  permanece.

Entre os que ainda não foram, um está surfando as maiores ondas na praia virtual.

O garoto sai das quatro linhas e passa a dirigente e dono da pelota e de um time todo.

Com amplos poderes para escolher o nome e o uniforme da equipe. Técnico e os onze craques e pernas de pau que entram na cancha cibernética.

Posição tão desestimulada  na vida vivida, como a de juiz pelas progenitoras, não impediu o surgimento da agremiação

Administrada por presidente e dois diretores técnico-executivos, a equipe conseguiu o patrocínio master do maior banco do país e nas mangas do uniforme, ostenta a logo de uma das grandes lojas de eletrodomésticos.

Nas cores monocromáticas do ABC e batizado com o nome de edifício no pé do morro do Tirol, o Dom Diniz FC vinha tendo um baita desempenho para um estreante na liga, até ingressar em fase preocupante. Crise à vista.

Convocado pelos netos sub-7 e sub-5, o avô,  torcedor de copa do mundo, comparece ao encontro marcado para tratar de assunto urgente e dos altos negócios do sodalício familiar.

O local e horário não poderiam ser mais adequados.

Um sports bar durante mais uma vitória do Flamengo. Com chopp liberado somente para o cartola senior.

Pelos parvos conhecimentos do mercado da bola, o dirigente máximo ocuparia cargo apenas honorífico se não fosse dele o  smartphone das operações.

Aquela reunião traçaria o planejamento estratégico e a  trilha a ser seguida sem mais vacilos atávicos.

Compromissos firmados sob testemunho do tiozão e da imensa torcida rubro-negra presente à arena etílica.

A tática adotada não poderia sofrer mudança.

O testado e aprovado 4-3-3.

Convocação de três jogadores top.

Quatro ou cinco estrelas do Flamengo.

Um goleiro pouco frangueiro e um técnico que não se chamasse Vanderley Luxemburgo.

Tudo certo e acertado.

Até o fechamento da janela de negociações antes da rodada do fim de semana.

Escalação completa no print, prestando contas no celular materno.

E o imediato retorno em áudio com a decepção externada na vozinha aflita e suplicante:

-Vovô, você promete que vai comprar Ewerton Cebolinha de novo?                                                 Aí eu dou um beijo e um abraço bem grande.

Futebol é pura paixão.

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