20 de abril de 2024
Memória

PARA NÃO ESQUECER DANUZA

Danuza Leão deixou sua coluna de jornal, sem despedidas, choro nem vela.

Comme il faut, à  francesa.

Revelou a uma amiga inconfidente, que não aguentava mais a auto-censura.

Depois do politicamente correto, o feminismo moderno e de tantos vitimizados por  supostos preconceitos, colunista  que falava do relacionamento das pessoas, passou a exercer  atividade perigosa.

Casada, três vezes, com estrelas do jornalismo, escreveu com simplicidade, e foi fundo nas profundezas da psicologia.

Do homem, da mulher, dos casais.

Na etiqueta, definiu comportamentos que viraram regras.

Foi a responsável pela retirada dos paliteiros das mesas dos restaurantes. Os mais chics agora oferecem fio dental.
No banheiro. Às claras.

Por muito pouco, não foi queimada nas fogueiras da nova-inquisição-social-democrática e da inveja despertada, quando confessou ter perdido o encanto de viajar a  Nova Iorque pelo risco de encontrar, na rua, o porteiro do prédio de Ipanema.

Para ela, a graça de ter muito dinheiro, sorri para  quem pode comprar coisas exclusivas.

Foi  tudo que queria ser. E um pouco mais.

Modelo da alta-costura, desbravadora dos desfiles parisienses, relações públicas,  promoter, irmã de musa da bossa nova, jurada de programa de TV, colunista de jornalão, escritora de best-sellers e até atriz de filme de Gláuber Rocha.

Na essência, uma mulher independente.

Aos filhos, nada pediu.
Nem que lembrassem de telefonar no
dia das mães.

Medo, confessou, só de ficar pobre. E doente,  ter de enfrentar a fila do INPS.

Para ela, Paris, por duas longas temporadas, seu endereço, e para onde viajou incontáveis vezes, nunca mais seria a mesma depois que toda loja de cosméticos têm vendedoras falando português.

Sua retirada de cena, discreta, sem alardes nem apoteose é um exemplo a ser  seguido.

Que todo  político que não cumpra as promessas de candidato sejam forçados a  tomar um chá de danuza.

Que todo governante que não estiver ajudando a melhorar a vida do povo, seja convidado a pegar o beco da danuza.

Que os magistrados  de todas as instâncias, flagrados manipulando a lei para benefícios próprios e de amigos, sejam enquadrados na compulsória danuza.

Que seja promulgada a lei de danuza obrigando toda governadora de origem popular a só conceder aumento salarial aos muito privilegiados, depois que a última pensionista também receber seus proventos protegidos das perdas inflacionárias.

É tudo tão simples.

É só não esquecer Danuza Leão.

                                        ***

(Com o título, “Danuza, por exemplo”, este texto foi publicado em 04/12/2019. Danuza Leão faleceu ontem, no Rio de Janeiro, aos 88 anos)



5 thoughts on “PARA NÃO ESQUECER DANUZA

    • Geraldo Batista de Araújo

      Danuza foi uma grande figura. Não tinha grande beleza, mas conquistou muitos homens.

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      • Mestre Queiroz

        Aprendiz de escrivinhador, sou eu!
        O cronista em tela, além de professor de escriba, pode se gabar que tem mais discípulos que qualquer Mestre Catedrático!
        Parabéns!

        Resposta
  • Geraldo Batista de Araújo

    Já comentei afirmando que apreciei de facto, como falam os lusos letrados. O aprendiz de escriba há muito virou mestre, mas se esqueceram de avisá-lo. Mas eu já o fiz, mesmo com medo de ser taxado de louvaminheiro.
    Gosto é “quinem” anus cada um tem o seu.

    Resposta
  • Mestre Queiroz

    Aprendiz de escrivinhador, sou eu!
    O cronista em tela, além de professor de escriba, pode se gabar que tem mais discípulos que qualquer Mestre Catedrático!
    Parabéns!

    Resposta

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