25 de abril de 2024
Coronavírus

PARADA QUASE OBRIGATÓRIA

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Das poucas categorias profissionais que não pararam totalmente as atividades, nem guardaram isolamento, mesmo que o home office tenha sido bastante usado, o trabalho  médico deverá sofrer profundas transformações.

Pelo menos para aqueles que antes da pandemia já tinham atingido o platô e estavam na curva descendente que leva todos à aposentadoria, ao ócio e ao tratamento das próprias doenças, sempre negligenciadas.

O trágico exemplo da Lombardia, replicado em todas as regiões do Brasil é o principal motivo para as mudanças.

A primeira ideia de recrutar médicos italianos mais experientes, muitos aposentados, para a linha de frente,  foi um desastre.

Para nós, anunciado, mostrado e não levado em conta, nem a sério.

A Itália contabilizou 130 óbitos de médicos contaminados no trabalho. No Brasil, passa dos 250.

Os números não foram mais cruéis porque a ameaça feita pelo Ministro Mandetta que poderia haver recrutamento compulsório, não se viabilizou.

Em nossa realidade o costume de aposentados do serviço público seguirem  trabalhando por contra própria ou em subempregos,  foi alcançado, sem misericórdia, pela avalanche.

O que antes era trabalho mais ameno, virou perigo maior.

Algumas especialidades, longevas por natureza, permitem facultativos depois dos 90.

Clínicos gerais, da familia e psiquiatras, costumam invocar a lei da bicicleta para resistir à compulsória.

Só param quando caem.

Os cirurgiões e áreas afins, sem saber quando chega a idade provecta, deixam o bisturi e outras aparelhagens mais sofisticadas para se apegarem aos estetoscópios, antes relegados nas suas práticas, ancorados em exames sofisticados, e voltam ao entusiasmo dos recém-formados,  com os diagnósticos de poucos recursos tecnológicos.

Sem terem sangue novo para substitutuí-los e o senso de responsabilidade altaneiro, mantiveram os idosos longe da quarentena, nas salas de pronto socorro e unidades de atenção básica.

Exposição, comorbidades e equipamentos de proteção individual precários, não foram as únicas causas das perdas tão pranteadas e evitáveis.

Mesmo gozando de boas aposentadorias, estabilidade econômica e aparente vida tranquila, plantonistas, continuam trabalhando em hospitais e serviços públicos, sem vínculo trabalhista, através de empresas terceirizadas.

Por paradoxal necessidade.

Quando forem fechar as estatísticas, dentre as lastimadas perdas, muitos terão deixados filhos menores, mais novos que os netos.

Novos casamentos, cônjuges jovens e crianças a cuidar e encaminhar na vida, são as motivações e o combustível para assumirem tantos compromissos como os que se seguiram os cursos de formação, no início da vida profissional.

Estes antecedentes estão impactando fortemente no retorno das atividades dos que conseguiram passar seis meses longe da labuta da vida toda, com a mesma angustiante decisão, sempre adiada.

Qual é a hora certa de parar de clinicar?

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One thought on “PARADA QUASE OBRIGATÓRIA

  • Ricardo Calazans Duarte

    Domicio Arruda , muito bem posta sua análise. Devemos abrir mão desse princípio de “querer sempre mais”. Porquê? Para quê?

    Resposta

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