23 de abril de 2024
CinemaMemória

PARADISO AGRESTE

Salvatore Cascio interpretou Totó quando criança


A lembrança de um menino maravilhado com o mundo do cinema projetou na pequena cidade do agreste potiguar, semelhanças com outras  terras distantes.

O que tem em comum o interior potiguar e o da italiana Sicília?

Pelo menos, terras áridas, vegetação rasteira e sol inclemente, mas suas vilas e cidades  como eram há cinco ou seis décadas, podem guardar mais similitudes que se possa imaginar.

Cenários e elenco de um mesmo filme.

Nuovo Cinema Paradiso, que imortalizou personagens e ganhou um Oscar, tem uma versão afetiva brasileira.

Basta que se dê asas e liberdade à imaginação.

Nas ribeiras do Curimataú, de  algum Totó não se tem notícias, mas Alfredo, o projecionista, Nova Cruz sabe muito bem quem foi.

Paulo Bezerra.

Empreendedor visionário, arrojado e polimorfo.

Além dos audiovisuais, manteve negócios nos ramos do comércio de mercearia, tipográficos, de destilaria e enchimento de bebidas.

Mas a jóia da coroa do seu império agrestino foi o Cine Éden.

Seu, e de todos, paraíso.

Edifício imponente,  pé direito alto e paredes escuras. Uma diminuta antessala de cortinas pesadas dava  acesso a duas entradas.

A clientela podia optar entre  platéia de primeira, de confortáveis poltronas não acolchoadas e de segunda, nas filas dos bancos sem encostos, mais próxima do écran.

Havia a possibilidade de se pagar ainda menos e assistir ao filme, meio enviezado, em pé, do corredor lateral.

Não só a entrada, o comportamento dos cinéfilos também era controlado pelo proprietário.

Advertências e até cartões vermelhos  para os inconvenientes, segundo peculiar manual de conduta que proibia assobios e comentários picantes.

Não precisa nem dizer quem era o ouvidor geral  para críticas, sugestões e principalmente, reclamações.

Quando foram pedir providências contra aqueles quase invisíveis insetos, cujas picadas além das marcas na pele, tiravam a concentração no filme, não fugiu das suas responsabilidades, décadas antes do código de direitos do consumidor:

As pulgas têm o carimbo do Cine Éden?

***
Ouça o tema final da trilha musical Cinema Paradiso, de Ennio Morricone (1928-2020)

Cinema Paradiso  “soundtrack final” “Tema finale”  “final theme”

(Reprise de publicação de 19/04/2019)

Cinema Paradiso (1988) – Direção de Giuseppe Tornatore

 

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