PAUSA PARA ACELERAR
O tempo, por si só, é suficiente para nos fazer diferentes. Nada é mais o que seria hoje.
Novos conhecimentos e tecnologias facilitam as atividades do cotidiano, simplificam a vida e mudam hábitos.
Quem nunca ficou a imaginar como teria sido a aventura da inesquecível viagem, guiada por mapas riscados de círculos e sublinhados, se já existisse o GPS?
Agora, todos pensam como será quando a pandemia passar.
Continuaremos sob a mesma batuta, no andamento gravíssimo, imposto pela maestrina não-convidada?
Ou apertada a tecla fast forward do metrônomo do novo normal, a vida andará prestíssima?
(Publicação original em 17/03/2019)
UMA CAMA REDONDA DEMAIS PARA DOISAntes do Trivago e do Booking , reservas eram tarefas sempre solicitadas a algum parente ou amigo que morasse na cidade destino.
Foi assim que fizemos eu e um colega quando fomos para um estágio de reciclagem (não se falava em fellowship naquele tempo) no Hospital das Clínicas.
Tudo certo. Um paulistano com ares e sotaque de quatrocentão, costumava passar férias em Natal, onde era paparicado por ambos. Seria nosso receptivo e cicerone na metrópole. Uma questão de reciprocidade.
Ao nos apanhar, já no aeroporto, não demostrou a mesma simpatia que irradiava no sorriso franco quando passeávamos de buggy em beiras de praia e terras de Poti. Parecia até que estava perdendo alguma coisa. Como era domingo à noite, imagino, o show da vida.
Com pouca conversa, sem marcar nenhum encontro para depois, simplesmente nos deixou na frente do hotel.
E lá estávamos com malas e bagagens numa calçada cheia de gente alegre, de um prédio decadente com portaria revestida de veludo escarlate.
Pouca burocracia e fomos levados aos aposentos.
Para nosso espanto, uma única cama. Redonda. Com baita espelho no teto.
Só conseguimos pernoitar à uma providencial distância um do outro graças a uma cama de campanha que o porteiro arranjou depois de ter a mão molhada.
Até hoje desconfio que nosso amigo escolheu com esmero nosso pouso para que sentíssemos o que era a paulicéia. Mais desvairada ainda com o neon e as luzes piscantes do Pink Motel.