PEDALADA SEM PERDÃO
O segundo julgamento ainda foi mais rigoroso. O corpo de jurados, ampliado, por unanimidade, já decidiu não aceitar as justificativas e ponderações.
O veredicto das redes sociais é destruidor.
Não tem mais pedalada que dê jeito. A falta foi tão violenta que não deixou dúvidas. É caso de expulsão sumária e banimento do esporte.
Condenado há três anos, a nove de prisão, com direito ao recurso em liberdade, só agora, com a divulgação da íntegra do processo, incluidas gravações em áudio, o caso ganhou proporções devastadoras para qualquer reputação.
Foram revelados segredos das festinhas de embalo, alcova, atitudes indignas e novas vítimas, além da jovem albanesa que sofreu as agressões físicas e psicológicas.
A mulher de quem já havia se separado (e reatado) e dois filhos pré adolescentes, recebem punições igualmente severas e serão solidários no cumprimento da pena.
O perdão da companheira, a mudança de vida e a procura da remissão dos pecados pela religiosidade, não são capazes de dispensar o julgamento dos homens.
As implicações de um crime transnacional vão levá-lo a disputar a decisiva partida com regras diferentes.
Em campo neutro e sem apoio da torcida.
Será comparado com outros jogadores que já passaram por situações diplomáticas assemelhadas.
Battisti, Cacciola, Pizzolato.
Terá também a seu desfavor, o racismo que teima em não deixar as arquibancadas e o calcio.
O curriculum do jogador já mostra o sacrifício da esposa em acompanhá-lo por tantos lugares antes e depois que o auge da carreira ficou pra trás. De alguma contusão, fase difícil ou idade que limita a profissão e por desgaste e chegada de novos e mais vigorosos colegas.
Espanha, Itália, Inglaterra, Suíça, China, Turquia.
Vida cigana, seguindo o faro dos clubes milionários e a esperança de voltar a mostrar lampejos do que já foi um dia.
Fama que alimenta os músculos desgastados e motiva o adiamento da aposentadoria que vai ficando sempre para depois e bem mais próxima.
A troca dos cadernos de esportes pelas páginas policiais não tem mais volta.
Daqui pra frente e pelo menos até o julgamento da segunda instância no tribunal de Milão, não haverá sossego, time onde seja aceito e contrato que resista à perda de patrocinadores.
As primeiras entrevistas e tentativas de explicar sua participação no ocorrido foram desastrosas.
Desqualificar a vítima, ao mesmo tempo em que se vitimiza por suposta perseguição da imprensa, nada ajudam.
Muito menos, a revolta contra o movimento feminista. Só serve para revelar sentimentos machistas anacrônicos.
Na hora que mais precisava calar, teve a infeliz ideia de se comparar ao Presidente Bolsonaro.
Uma referência inadequada para sensível momento e delicado tema em questão.
Esqueceu que o capitão foi também condenado.
Sem ter praticado nenhuma ação.
Apenas, por pensamentos e principalmente, palavras.
Ter dito que não cometeria o mesmo tipo de crime por razões estéticas, valeu um pedido público de retratação e pagamento de multa de dez mil reais.
Em julgamento, o respeito que elas merecem.
Perde-se as boas oportunidades por causa do excesso de dinheiro – altos salários e descontrole !
Excelente texto!
Parabéns Domício.
Gostei do texto. O tema é triste.
Muito boa a análise. Coerente e preciso. Parabéns, Domicio.