24 de abril de 2024
Política

PEDE-SE SILÊNCIO

 

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Desfile Militar na Praça da Ópera (1830) – Franz Krüger – Galeria Nacional, Berlim


Na idade que não cabe pressa, só o que é simples e essencial importa.

Quem demonstra isso com clareza, são os netos.

Surpreendente como são capazes de mostrar saídas para problemas aparentemente insolúveis.

Até mesmo casos perdidos, com os dias contados, fadados ao fracasso, impeachment ou interdição psiquiátrica.

O que faz o avô para encurtar as noites de sábado em irrequietas companhias?

Depois de esgotadas as estórias e as guloseimas proibidas, nada como acionar a velha e deseducadora TV.

Nas primeiras cochiladas, e para induzir o reparador sono, foi que inventaram a função mudo.

-Eureca!

Coisa tão simples, também pode estabilizar o mercado de capitais, frear a inflação de dois dígitos, resolver conflitos da conchinchina, agilizar as reformas e ser o início da retomada do crescimento econômico.

Ver o desempenho do nosso loquaz presidente, sem o som, é de causar arrepios, emoções e espanto.

O homem gesticula com a maestria de quem é iniciado na língua de sinais.

Caminha na cadência ritmada de marcha militar, passando a sensação  de segurança que todos necessitam.

Toma atitudes inesperadas, fora do protocolo, com grande simbologia.

Vai pra galera de peito aberto, e mesmo sem o áudio, ouve-se alto, o ensurdecedor grito de guerra.

-Mito. Mito.

Não beija as criancinhas como qualquer candidato a vereador. Sabe fazer diferente. Parece dialogar de igual para igual com elas.

Acompanhado dos ministros, passa a ideia de total controle sobre a máquina administrativa.

Ao seu lado, Guedes, com aquele aspecto de quem não dorme há meses, transmite a certeza  que as finanças estão sob controle.

No seu primeiro 7 de setembro, a lua de mel já havia acabado mas o capitão-presidente ainda conseguiu emudecer as oposições.

Tudo poderia ter sido bem diferente dali pra frente, incluído o enfrentamento da pandemia que aportou em poucos meses.

Se não fosse o maldito do microfone.

Bastava que as emissoras de televisão tivessem adotado técnicas de cinema mudo nos seus noticiosos.

E a cada aparição bolsomínia, todos os áudios tivessem sido desligados. E nada de sonoras.

Para aumento da percepção de dinamismo, as imagens poderiam ter sido  apresentadas ao fundo musical de Tico-tico no Fubá.

Dois anos depois, na festa cívica, sem desfiles militares, um golpe retardado e certeiro abalou  a confiança do rebanho e a fé dos irmãos caminhoneiros.

Discursos inflamados com recheio de ameaças, antes que o galo cantasse três vezes, viraram fala mansa em humilhante nota de arrefecimento, vista pelos fundamentalistas como manobra de dunquerque, só para não batizar a estratégia com adjetivo escatológico.

Resta uma esperança.

Como o selvagem da motocicleta, por milagre de alguma  santa das causas impossíveis, passou a ouvir os mais experientes, e antes que este imenso bananal seja anexado à Venezuela, não custa convidar o Ex-rey Juan Carlos de España para o próximo desfile.

  ¿Por qué no te callas?

5AE28DB0-C792-4990-96B6-3004CCB93794Guardas russos em Tsarskoye Selo (1832)          Franz Krüger

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