25 de abril de 2024
GestãoPolítica

PENOSA TRAVESSIA PELOS CAMINHOS DE FÁTIMA

Obra surrealista de bajulador desconhecido (2021)


Neste grande acidente, sem sorte nem precisão geográfica,  às margem da
ria do Potengi, eleita a república sindicalista, a auto-proclamada primeira mulher de origem popular  assumiu o governo prometendo mudanças.

Não se imaginava era o tamanho da ousadia.

Entre seus primeiros atos, a terceira governadora tratou logo de fazer parar o calendário.

Sem uma nova  Inter Gravissimas, aos quinze dias de mandato, repartiu o mês em dois, e restaurou o já esquecido costume do pagamento por quinzena.

Qual uma papisa discípula de Gregório XIII, como estivéssemos em 1582, apagou parte do passado e avançou os ponteiros do relógio para encerrar o mês em sua metade, no esforço para atualizar proventos da nova classe dirigente, ocupante dos cargos comissionados.

Os espelhos retrovisores guiaram a travessia pelos caminhos tortuosos das eleições municipais, livrando a caravana da máquina oficial, de maiores perdas.

A irrupção da grande pandemia que poderia causar desequilíbrio fiscal catastrófico, trouxe o alento de mais de um bilhão de reais  no socorro da União, contabilizado, sem contrapartidas, como benevolência do executivo federal, cantada em versos bem ao estilo e ritmo dos bolsominions.

A economia em hibernação, como por milagre, preservou o equilíbrio da cadeia de produção e consumo.

O volume arrecadado pelos publicanos papa-jerimuns não sofreu retrocessos.

Já no remanso da segunda onda da maré pandêmica, com a marujada esquecida de motins e desacostumada com greves, a capitoa-mor, no alto do mastro, da casa da gávea, anunciava reeleição à vista.

Os fardos mais pesados na carga  da nave-almirante haviam sido jogados ao mar.

Sem o carregamento, o desembarque na terra firme em outubro de 2022, tinha tudo para ser  pacífico e certo.

O 13° de 2018 que já apodrecia nos porões, roído pelos ratos dos juros e agiotas, esquartejado em várias partes, passou a ser distribuído ao léu e arrepio da lei, sem atualização monetária, ao embalo das vagas do mar.

Sem data certa, levadas pela  brisa errante, um dia acabou encontrando as contas bancárias dos barnabés.

Restava, à espera de ser desembrulhado, o pacote com o carimbo desbotado de dezembro de 2018.

O último demônio da herança maldita a ser exorcizado.

No devido tempo, senhor proustiano da razão, o carma dos atrasos salariais, ao contrário de muitos antecessores, será lembrado positivamente enquanto sobreviver  politicamente, a migrante paraibana.

Mas também não a livrará dos maquiavélicos espíritos suínos, que farão de tudo para  incluir no histórico do calendário de pagamentos, a segunda lei de Lavoisier.

É comparando que o povo entende.

Para os alquimistas que transformam índices econômicos e outros números, em votos, no primeiro dia da fatídica gestão 13, o salário do mês imediatamente findo, estava no pendura, atrasado, exatamente um único dia.

Em horas, 24.

Três anos, quatro meses e vinte e quatro dias depois, sob aplausos de 38% do eleitorado, o governo corta a fita inaugural da sua mais vistosa obra.

Já que não restam  salários em atraso, está na hora do governo mostrar também,  o que tem feito para melhorar a vida dos outros 3 milhões e 300 mil potiguares.

Que tal, começar pela Educação? 

A persistência da memória, detalhe (1931) Salvador Dalí – Museu Metropolitana de Arte, MoMA, Nova Iorque


(Com extratos do texto A Persistência da Memória, publicado em 19/05/2021)

One thought on “PENOSA TRAVESSIA PELOS CAMINHOS DE FÁTIMA

  • Maria das Graças de Menezes Venâncio

    Ontem o Editorial do Jornal Agora retrata bem as limitações do governo do PT no Rio Grande do Norte. Bom que apareça novamente aqui sua crônica. Falhou em tudo. Mas, não há a epidemia do PT no Nordeste. Lhe asseguro que noto em Bolsonaro, mas jamais no famigerado PT. Bom final de semana.

    Resposta

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