25 de abril de 2024
ComportamentoCoronavírus

SENTIMENTOS EM PIJAMAS

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Dona Lurdes Benzedeira, (2020) – Alex Freire – Bonito, Pernambuco.


A  curta temporada  para as exéquias do falecido, celebrações do ano novo, e desfrute da brisa salitrosa, na casa de veraneio dos sócios no afetivo negócio de criação de netos, teve de ser interrompida.

Um dos principais fornecedores da matéria prima,  apresentou preocupantes sintomas, alertas que os vulneráveis circunstantes poderiam também ser atingidos. Em especial, os provectos .

Como pedras de dominó que caem em sequência, à distância e às mensagens de WhatsApp, chegaram notícias de outros acometidos das mesmas febres, tosses e molezas.

Não é preciso ser presidente de uma grande nação do norte ou apequenada do sul, para se escolher um diagnóstico precoce mais camarada.

A gripezinha só podia ser esta novidade que de uns tempos para cá, anuncia o início das chuvas.

A confirmação de Influenza no paciente zero da família, em exame de laboratório, associado à fobia de filas circunvoltantes, estendeu o veredicto a todos os caídos que viram, aglomerados, a chegada da primeira barra do primeiro dia da folhinha nova.

Como em toda temida doença, a negação foi o pensamento ancestral.

Coriza, quem não tem uma, pra chamar de sua alergia predileta?

Irritação na garganta, preço por tanto álcool consumido em taninos, castas, varietais e outras borbulhas espumantes.

Tosse psicogênica pela sobrecarga emocional, em época de recordações e saudades, misturadas às incertezas que continuam, nesta  viagem sem volta, da vida que nunca zera o odômetro.

Espirros, aviso histriônico ou episódio esternutatório sempre presente nos enredos de melodramas gripais, não iria faltar nesta anamnese.

Adinamia, misto de fraqueza e vadiagem, em estação estival começada,  é sintoma difícil de ser identificado no país de Macunaíma.

-Ai, que preguiça!

Mas, quando bate o febrão de quase 39°, o termostato do pensamento pessimista dispara, lembrando que, apesar da imunização completa e da terceira dose de reforço, o grande inimigo continua a circular. Brejeiro, amistoso e de novo nome social.

Ômicron, para os outros.

De preferência, israelenses, americanos, alemães e tantos endinheirados do hemisfério bafejado pelas deusas da fortuna.

Nestas horas, vale tudo.

Nome nas correntes de orações, mezinhas, remédios reposicionados, sem comprovação científica, receitas da vovó.

E uma lastimável constatação: as rezadeiras sumiram.

Logo elas, a quem nenhum difruço jamais resistiu.

Quem sabe, essas universidades a 1,99,  não abrem cursos EaD de formação de comadres benzedeiras?

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A Benzedeira (2020) – Andrea Teixeira, Rio de Janeiro.

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