PEQUENAS SAUDADES
Entre muitas revelações da quarentena, uma é incontestável. Unânime.
Mas vale só pra quem já teve a ventura e a graça de ser avô.
Não há saudade maior.
Não importam as chamadas de vídeo nem as visitas (mascaradas) de calçada e vidros levantados.
É questão de sentimentos.
E sintomas.
A vida sem eles fica insípida, inodora e em preto-e-branco.
(Publicação original em 31/05/2019)
A NETINHA PINTADINHA
Quando chega uma certa idade, o ritmo da vida desacelera.
Maktub.
Poucos têm interesse e disposição para começar novos negócios. Manter o patrimônio e ir gastando aos poucos é o que quase todos fazem.
Empreender com sócios-parceiros, deve ser a última idéia de jerico a passar pela cabeça dos idosos. A penúltima é achar que atingiram a melhor idade.
Mas é nessa fase da vida que sem percebermos, começamos mais uma empresa.
Na modalidade Cia. Ltda.
E ganhamos, compulsoriamente, três associados.
A comunhão universal de bens já determina quem é o primeiro. Natural. E doméstico.
O conge. (apud S. Moro).
Os outros dois, obrigatoriamente, são os pais do genro ou nora.
Já deu pra perceber que avós dividem dividendos, ações, e atenções dos netos. Por quatro. Em partes desiguais.
O lado materno da composição acionária sempre tem mais direitos, regalias e tempo efetivo com o objeto da sociedade. E deveres. São os substitutos naturais nos impedimentos dos titulares.
Temo que o pátrio poder ancestral seja invocado para o veto a uma próxima visita de Laura, a neta gaúcha.
Com marcas deléveis pelo corpo todo, podem alegar maus-tratos de incapaz. Por descuido com as picadas dos maruins da Barra do Rio.
Se assim for, recorrerei à tese da alienação atávica.
Texto maravilhoso.