24 de abril de 2024
Comportamento

PERGUNTAS NADA DISCRETAS

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A curiosidade pode até não matar, mas deixa sequelas.

E rostos vermelhos de vergonha.

A principal causa de assassinato ou alejo de bisbilhoteiro é pergunta errada, na hora incerta.

O encontro de  velhos amigos de infância na fila do banco, no tempo em que não havia auto-atendimento nem a lei dos 30 minutos, nunca respeitada, acabou  em silêncio sepulcral.

À distância de poucos passos, a impressão era que podia ser um familiar parecido ou sósia de quem imaginava já estar vivendo reencarnado em outras vidas.

Ao se aproximar, a pouca confiança na memória necrológica disparou a pergunta sobrenatural, de resposta impossível de ser dada:

Amigo, por aqui?                                                      Você não tinha morrido?

Acompanhante em congresso médico, afeita aos encontros nas atividades sociais, deixou de perguntar aos colegas do marido pelas suas respectivas, depois que um deles foi bem casual:

Inês?                                                                         Depois dela já se foram Cláudia e Iolanda.

O bando que caminha junto,  no mesmo lugar e hora matinal, é também de ajuda mútua e apoio sóciopsicológico.

As fontes de informações são segmentadas e cada um tem sua  própria expertise.

Polêmicas só na classificação  dos restaurantes. Impossível chegar às listas dos melhores, tantas as discordâncias.

Ambiente, preços, atendimento, tempo de espera, quantidades das porções e o maior peso, se aceita que se leve o varietal da vinícola do supermercado.

E se o cobrado  pela rolha compensa. Sem contar as  cartas que nunca satisfazem enólogos nem enófilos.

A regra é que o argumento custo-benefício não pode mais ser invocado pela total impossibilidade de se consensuar (juro que existe este verbo no Dicionário Sindical Brasileiro).

E pelos restauranteurs com familiares andantes que podem transmitir as críticas nem sempre construtivas.

Motivo de quase vias de fato entre quem disse e quem disse que não disse, o disse-me-disse gastronômico.

Além das indicações de prestadores de serviços eventuais, encanadores, eletricistas e afins, com referências de trabalhos bem executados e preços em tabelas que não furam os orçamentos, ombros amigos também estão disponíveis  para as carências sentimentais. E desabafos.

Quando surgiram os primeiros rumores que havia, na pista, alguém na pista, ninguém ousou perguntar se era verdade o que já se comentava até na arquibancada do futuro chiqueirinho de Japecanga.

Como ninguém tomou a iniciativa de atualizar   o estado matrimonial do amigo cabisbaixo, a conversa tomou outros caminhos.  Descambou pro futebol e quase morre de overdose do remédio que curou o capitão-presidente.

Antes que o cansaço e a hora chegassem, uma perguntinha inocente, fora do contexto, tirou todas as dúvidas e confirmou o que todos já tinham certeza.

Sem dizer pra que queria a informação, alguém  perguntou ao  presunto solteirón qual era o CEP do partidón ainda não declarado.

Livre, leve e solta, a resposta esclarecedora.

Não sei. Há uma semana, estou morando na casa de uma irmã.

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