29 de março de 2024
CoronavírusHomenagem

PRECE PARA SOLON

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Seria mais um dos muitos médicos acometidos pela pandemia que precisam de internamento em tratamento intensivo.

Mais um caso que se toma conhecimento de longe.  No distante Goiás.

Se não tivesse sido colega de turma de um filho no curso de Medicina que terminaram em 2007.

E não tivessem servidos juntos  à Aeronáutica por mais de um ano.

Depois, os caminhos se distanciaram.

Em direção à vida profissional, cada um passando por diferentes estradas, igualmente trepidantes, da escolha da especialidade,  com longas paradas nas residências médicas.

As notícias cada vez mais raras, nas rápidas viagens e curtas férias para visitar a filha, fruto de amor juvenil com quem divide o afeto com os gêmeos ainda bebês que gerou na maturidade.

Cumpriu a via crucis de quem procura o sol e um espaço para se anunciar nos guias médicos e sites de endereços dos bem sucedidos.

Encarou o PSF, comeu poeira em Timbaúba dos Batistas, levou calote de prefeito enrolão.

Jogou o nordeste, a seca e tudo, pro alto, na volta pra casa.

Influenciado  pelo fenótipo e os músculos modelados nas academias de Goiânia, pensou em ser ortopedista.

No bloco cirúrgico, do outro lado dos campos operatórios, enxergou a especialidade e a vocação que nunca ocupou sonhos.

Para sobreviver, comprar o carrão de dar inveja e delirar com o ap de suíte master e espaço gourmet, muito plantão de clínico, em pronto-socorro.

E continuou detestando todos os outros que teria de  dar depois de virar anestesista.

Encontrou  entre laringoscópios e agulhas de peridural, a praia certa.

Não teria mais  de fornecer atestados aos preguiçosos que trocam expedientes por consultas, nem tratar quem não está doente.

Não mais iria sentir-se pior que qualquer paciente atendido no turno e principalmente,  não haveria mais  de explicar, em detalhes, aos curiosos e  bisbilhoteiros, o trabalho executado.

Em tempos de bois magros e antes de juntar-se à comitiva de intrépidos investidores que enveredaram  pelos campos sem fim do mercado de capitais, conheceu o sucesso em área totalmente diversa das que cuidam dos males do corpo.

O dom natural, desenvolvido como hobby, já estava no mesmo patamar dos profissionais que publicam nas melhores revistas e jornais.

Desenhista. Cartunista. Dos bons. Com estilo único.

Suas tirinhas com o distópico nome Meus Nervos, ocupa criativos espaços nas mídias sociais.

E dão um toque original a palestras em tudo que é congresso médico.

A realidade da profissão, dos recém-formados, de quem trabalha em precárias condições, desejos e desventuras dos jovens doutores, são retratados com maestria pela graça cáustica do desenhista mal humorado que se revela em auto-rabiscos.

Assumiu, empunhou e defende bandeiras.

Contra a invasão dos cubanos, das terapias alternativas, dos fajutos formados nas fronteiras com Paraguai e Bolívia.

A favor da educação financeira.
Do Revalida. E do exame de ordem.

Defende com garras de pitbull, ideias transformadas em podcasts.

A discussão dos aspectos políticos e econômicos, conduz com didática soberba, motiva o debate e instiga o pensamento em provocações que sempre deságuam  no oceano da  polêmica.

Transparente em suas posições,  não deixa dúvidas que defende o capitalismo e teses à direita (e bota direita nisso) no espectro ideológico.

É conservador. E ponto.

A pandemia entrou na sua  pauta junto com a disputa entre as tendências dos contra e a favor.

De tratamento precoce, dos que deixam estar para ver como fica, das vacinas e da ciência em andamento, inconclusa.

No início do mês passado, submeteu-se a cirurgia de meniscos.

Dez dias depois, voltava ao hospital para melhorar a saturação de oxigênio do sangue.

Postou resultado de exames, fotos das tomografias,  até que veio o último post.

Já estava com dificuldade para escrever.

Há mais de um mês em UTI, transferido para hospital de Brasília, dependendo de oxigenação de membrana extracorpórea, a esposa e  amigos se mobilizam em rifa digital  para pagar o tratamento de alto custo, indisponível no SUS e negado pelo plano de saúde.

Solon Maia, estamos com você.

Sentimos falta daquelas flechas que sabes atirar com tanta pontaria.

Elas atingem nossos corações e cérebros e nos fazem pensar no que realmente importa na vida.

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