PROCESSANDO O VOTO
A vida corre rápido nos cabos de fibra ótica e infovias.
Há um ano, votar numa eleição nacional, mesmo que de uma entidade médica com número reduzido de sócios, era novidade de deixar o queixo nos joelhos.
A pandemia está mostrando que há muito mais coisas na blogosfera do que os home offices.
A novidade chegou pra ficar.
Assembleias já estão sendo realizadas à distância, por controle remoto.
Tem a vantagem da análise calma dos documentos antes das decisões e evita a manipulação de votos. Nas contagens das mãos levantadas e resultados viciados pelos que, apáticos, permanecem como estão.
(Publicação original em 07/08/2019)
O NOVO VOTO/PROCESSONinguém precisa esperar pelo futuro. Ele chega sem tardar, não bate à porta, nem aperta campainha.
Em sua última visita, foi sorrateiro. Com um toque sutil e bem familiar de alerta, anunciou sua chegada. Era tempo de escolher pelo voto secreto. Direto do smartphone.
Como já fizeram associações e entidades mais contemporâneas, chegou minha primeira vez. De votar em eleição nacional, exclusivamente on line.
Experiência que faz qualquer um sentir-se habitante de Orbit City. Vizinho da família Jetsons.
Quase centenária, a sociedade de especialidade médica costumava eleger seus dirigentes em eleições presenciais. Na tradição republicana.
Com listas, cédulas, cabines, atas, presidentes, secretários, mesários e fiscais. Durante congressos bienais.
Perdia-se horas nas longas filas e ganhava-se o constrangimento de ter de prometer, na boca de urna e na surdina, votar em tantas chapas quantos colegas candidatos nos cumprimentassem efusivamente.
Passados muitos anos até a opção do voto antecipado, pelo correio. Cartas, sobrecartas, envelopes, carimbos, registros, ARs e o risco do voto inválido por atraso na entrega ou eventuais greves dos carteiros.
A novidade é o que novos gestores, gurus das inovações e coaches de um modo geral, chamam de quebra de paradigmas.
Depois de campanha eleitoral eletrônica (sem impressos nem panfletos), foi aberto o prazo de um mês para votação. Podia ser tempo mais curto. Pelo menos para quem sempre votou na primeira hora.
Por SMS ou e-mail é enviada uma senha por CPF cadastrado, o que permite acesso ao site. Em poucos toques e segundos, o dever societário se completa. Não importa em que continente ou em qual fuso horário esteja o votante.
Quando iremos poder cumprir nosso dever cívico na escolha dos governantes, da mesma maneira?
Vários estados americanos já adotam métodos semelhantes. Menos para presidente. É só lembrar o que aconteceu quando os gringos combinaram com os russos.
Na última eleição presidencial na Lituânia, mais de um quarto dos votos foram feitos em casa.
Além das proconsults, smatmatics, intercepts e outras que ainda estão por aparecer, há pontos a ponderar.
Dos analfabetos e deficientes visuais. É possível um áudio-voto?
O Siri quebra o sigilo?
Como fica o segredo?
O TSE poderá lançar uma campanha publicitária:
-Faça do seu celular, uma cabine indevassável.
De outros argumentos, não restam dúvidas.
Os custos serão infinitamente menores.
Domingo é dia de orações. E pernas pro ar.
O sufrágio continuará obrigatório. Ou não. Ninguém vai reclamar de ter de sair de casa para anular o voto.
Um dia, nossos netos votarão assim.
E se a qualidade dos candidatos não melhorar, prato cheio para os performáticos.
A chance de uma baita e inspiradora instalação doméstica no ritmo de poema-processo:
Sentado no vaso
O fato
O ato
O voto (consciente)
E a descarga final.