25 de abril de 2024
Coronavírus

PROMESSA DE AVÔ

D3896674-CB7A-4C55-8CE1-4D1031FFFECBSó um motivo pra lá de justificável para suspender, por algumas horas,  o isolamento voluntário que já passava dos cinquenta dias.

Algo muito especial que conseguisse  vencer a inércia rendida, a preguiça forçada  e o medo  da aproximação das pessoas, por mais inofensivas e queridas.

Nada mais aceitável que o tão planejado e aguardado mega aniversário de quarenta anos da primogênita, resumido a um almoço em petit comité para sete pessoas.

Uma terça-feira promovida a domingo, em calendário de trinta feriados por mês.

Ainda bem que o número de convidados não configurava uma aglomeração.

Foi este mesmo, o exato termo usado pelo neto de quatro anos, ainda na calçada, com jeito de quem não iria entrar, ao perguntar  quantos foram  os convidados.

Convencido de não estar cometendo crime,  à medida que o distanciamento ia sendo relaxado e as cenas de terror repetidas nas TVs, esquecidas, a certeza que chamadas de vídeo, lives e outras modernices  não chegam nem perto  do contato epidérmico.

Ímpar oportunidade para  esclarecer dúvidas e situações que o relacionamento remoto podem ter provocado.

Que sirva de alerta aos avós brincalhões.

Os sub 5 podem levar muito a sério, o que é dito nas melhores e carinhosas intenções nos telefonemas cheios de saudade.

O elogio na telinha do smartphone que a turminha parecia estar bem.

Bonitões, como sempre acham os avós.

Fortes. Crescidos.

Tão grandes que seria capaz de não serem reconhecidos  num encontro casual nas ruas (do shopping, o único lugar possível de passar por  eles).

Não se pode imaginar como eles decifram  a linguagem falseada dos adultos.

Só a trégua nesta guerra cruel para colocar em pratos limpos, antes do bolo da aniversariante ser partido, desentendimentos acumulados e ainda não  esclarecidos.

Num descuido da vigilância sanitária materna, a chance de um abraço apertado e de ouvir na vozinha, cheia de sentimentos, ao pé do ouvido, um pedido.

Você promete?

Um turbilhão de pensamentos e as várias hipóteses do que aquele ser grudado no peito, podia esperar de um idoso, com cabelo e barba pra fazer há semanas,  do grupo de alto risco, nos seus late sixties.

Bicicleta, não era. Foi promessas cumprida no último aniversário.

Alguma viagem? Essas  são  caronas, sem participação na escolha dos destinos.

Outro pernoite na casa da vó? Nem precisa, a agenda pós-pandemia  está  aberta pra essas alegrias.

Ao revelar a necessidade do que tanto precisava ouvir, a inversão da ordem natural dos acontecimentos gera a dúvida.

Ou ele já sabe o que é Alzheimer ou é vontade de parar o implacável  ciclo da vida.

Vovô, você promete que nunca vai se esquecer de mim?

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One thought on “PROMESSA DE AVÔ

  • CECILIA MEDEIROS

    Nao sou avó,ainda,mas um pedido deste é inesquecível. Eu iria fazer uma tatoo p ele saber que escrevi na pele para nunca esquecer o que já está gravado no coraçao.

    Resposta

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