20 de abril de 2024
Bom Saber

Psicodélico para depressão desenvolvido pela UFRN repercute

A novidade é matéria de meia página da Folha de São Paulo desta segunda-feira, 23.

O Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte deu a largada em testes clínicos com vaporização do psicodélico dimetiltriptamina (DMT) –componente psicoativo da ayahuasca— para depressão resistente a tratamento.

A empresa canadense Biomind Labs, parceira do ICe-UFRN, anunciou a primeira inalação de DMT na etapa piloto de um ensaio clínico de fase1/2.

O grupo do físico Dráulio Barros de Araújo na UFRN dá continuidade, assim, a seu estudo pioneiro com ayahuasca, o primeiro a testar uma substância psicodélica para depressão seguindo o padrão ouro da pesquisa biomédica (ensaio duplo cego controlado por placebo). Comprovou-se, na ocasião, um efeito antidepressivo rápido e sustentado por sete dias do chá.

A parceria começou há cerca de um ano, por iniciativa do empresário uruguaio Alejandro Antalich.

Fundador da Biomind, ele tinha organizado a venda da primeira empresa a produzir maconha para um governo nacional, a ICC Labs, da qual era executivo, à Aurora Cannabis. Após a transação, decidiu aplicar sua experiência com regulação de substâncias controladas ao efervescente ramo dos psicodélicos.

O Brasil deveria ser um dos países pioneiros em validar e reconhecer o valor da investigação científica em redor de diferentes substâncias psicodélicas nos últimos anos, defende: “Pensando só que várias plantas nativas do Brasil produzem esses princípios ativos psicodélicos deveria ser razão mais que suficiente para promover a ciência psicodélica e legislar nesse sentido.”

Segundo o uruguaio, 1 bilhão de pessoas, um oitavo da população mundial, enfrenta algum tipo de transtorno de saúde mental, para as quais não surgiram inovações de tratamento nas últimas cinco décadas.

“Lamentavelmente perdemos um tempo mais que valioso de investigação, porque as substâncias psicodélicas estavam incluídas na lista 1 [Schedule 1, rol de drogas proibidas capitaneado pelos EUA].”

A Biomind segue a via convencional de desenvolvimento de fármacos, com testes clínicos destinados a cumprir os critérios exigidos por agências reguladoras, como FDA e Anvisa.

Isso requer muito investimento, que a companhia vai buscar no mercado de capitais do Canadá, onde está listada na bolsa de Toronto. Isso lhe permite levantar recursos também nos Estados Unidos. A empresa acaba de instalar um centro de operações no Campus Biomédico da Universidade de Cambridge, Reino Unido.

A propriedade intelectual, segundo Antalich, é outra peça importante dessa estratégia.

A Biomind já apresentou 20 pedidos de patente em 15 meses (incluindo mescalina e 5-MeO-DMT).

O objetivo declarado é universalizar o uso independentemente da renda dos pacientes. Daí a necessidade de encaixar melhor o tratamento psicodélico na prática clínica, sem encarecê-la com horas e horas de acompanhamento especializado ao longo da duração da viagem.

EFEITO DURA DE 10 A 15 MINUTOS 

A diferença está em que, desta vez, não se usou a bebida de religiões como Santo Daime, UDV e Barquinha, mas DMT pura. Na forma de beberagem, a ayahuasca precisa ser preparada com plantas contendo betacarbolinas, como o cipó-mariri, pois essas substâncias inibem a degradação da DMT do arbusto chacrona no aparelho digestivo.

O experimento usa o vaporizador Volcano Medic, já empregado para compostos da cânabis. Pelas vias aéreas, a DMT cai na circulação sanguínea e chega mais rápido ao cérebro.

O efeito dura 10-15 minutos, intervalo bem mais compatível com a aplicação clínica do que as três horas ou mais da ayahuasca. Araújo vai testar também injeções intramusculares de DMT, cujo efeito se prolonga por cerca de uma hora.

Um dos objetivos é comparar as duas formas de administração da DMT e medir o efeito antidepressivo de cada uma. O físico também espera tirar alguma pista sobre a contribuição da experiência psicodélica propriamente dita (a “viagem”) para o benefício terapêutico em investigação.

Nem todo mundo está disposto ou preparado para enfrentar a viagem prolongada.

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