18 de abril de 2024
BBBOpinião

Quando cabelo não é mero detalhe, mas racismo

joao-luiz-racismo-peruca-black-power-600x400

O reality show Big Brother Brasil da TV Globo pode ser mai útil do que muita gente pensa.

Na noite da de segunda-feira, um chamado Jogo da Discórdia faz as vezes de uma reunião de condomínio para os participantes apimentarem as relações da casa, seja com críticas, elogios e reclamações.

Foi aí que entrou o desabafo do professor João, um participante discreto, que vem crescendo da disputa por movimentos equilibrados e coerentes.

A treta, como eles gostam de dizer, foi uma gozação do goiano Rodolfo (foto) ao comparar a peruca de uma fantasia de homem das cavernas ao cabelo crespo de João.

O fato disparou um gatilho, que só quem sofre os reflexos do racismo pode e deve mensurar:

— No sábado, aconteceu uma situação lá no quarto cordel em que estava eu, Caio, Rodolffo e Juliette. E eu estou dizendo isso aqui agora porque é um momento de muita coragem de poder estar falando, mas o Rodolffo chegou a fazer uma piada do monstro da pré-história com o meu cabelo.

Então, isso para mim tocou num ponto muito específico, porque o jogo pode ser sim de coisas que a gente vive aqui dentro mas aqui dentro é um jogo de respeito. Eu te daria mais umas quatro flechas (de jogo sujo) —disse ele.

O cantor goiano Rodolfo que fez o comentário racista negou a “intenção”;

— Cara, se todo mundo observou como que era a peruca do monstro acredito eu que é um pouco semelhante. Não tem nada a ver isso — disse.

O professor retrucou:

— Naquela hora lá dentro, eu me calei, não falei nada. Mas você não sabe o quanto que aquilo que você falou me machucou — rebateu João, já chorando.

— Não adianta vir com discurso que você não teve a intenção de fazer. Eu estou cansado de ouvir isso não é só aqui dentro, é lá fora também. Nunca ninguém tem a intenção de machucar, nunca ninguém tem a intenção de fazer as coisas com a gente — acrescentou.

O que para Rodolfo pode parecer mimimi gera dor em quem recebe a “brincadeira”.

Ele chegou a justificar a gozação com o cabelo do pai e a tia, que também têm cabelos crespos.

O que antes era mais divertido na escola quando pretos “podiam ser xingados” por brincadeiras que eram engraçadas para todos menos para eles virou causa séria, depois de anos deixando cicatrizes invisíveis nessas pessoas.

Não é que o mundo ficou “mimizento” e sem graça,  cheio de patrulhamentos.

É que pessoas sem chance de falar e serem ouvidas, finalmente, foram enxergadas e suas dores agora contam e conta muito.

Como chegamos a esse ponto “de evolução”?

Graças a lutas de chamadas minorias com uma conscientização coletiva  ainda engatinhando  e talvez por isso um programa de TV ainda gere tanta polêmica, discussão e surpresas.

Rodolfo hoje vai enfrentar um paredão para sair do jogo com essa propaganda nada edificante.

 E não merece ser cancelado por um erro,  que todos nós podemos cometer, mas parece que vai ter sua resposta num paredão da vida que não suporta mais quem erra e prefere persistir no erro.

Ele preferiu não aprender com quem pode dar lição  – com  teoria e  exemplo.

A discussão do professor com cabelo crespo zoado por um goiano “da elite agro sertaneja” é mais representativa do que possa parecer.

É um retrato sem retoques do Brasil polarizado que quando aflora um crime como racismo parece desequilibrar a divisão por um bom senso superficial e ainda inconsistente.

A lição do professor João foi clara e alta: tem que parar para ouvir, aprender, mudar, rever conceitos e preconceitos,  é não se apegar à visão dos homens das cavernas tão enraizadas nesse Brasil continental..

E nesse caso, somos todos alunos com uma  lição maior a aprender e vivenciar:  cabelo não é um  mero detalhe.

10 thoughts on “Quando cabelo não é mero detalhe, mas racismo

  • Legião

    Creio que o colega do BBB 21 tenha cometido um exagero extremo de chorar por causa de bricandeira com o seu cabelo crespo,analizando o contexto histórico e atual da populacão do Brasil,segundo uma pesquisa genética relizadas com as mulheres brasileiras,86% delas incluindo as mulheres consideradas brancas possuiam nos seus genes hegemonicamente das etnias de pretos/negros africanos e indígenas/amarelos ou amerindios,a imigração de brancos europeus para o Brasil principalmente de portugueses e espanhois que migrarão para o Brasil sendo majoritariamente entre 70,80 e 90% de pessoas do sexo masculino, estés homens aventureiros que para aqui migrarão em busca de prosperidade e enriquecimiento fácil,principalmente das classes sociales e económicas pobres de Portugal que se unirão em matrimonio com as mulheres indígenas e também com mulheres negras africanas,citando como por exemplo o senhor André de Alburquerque considerado por muitos o fundador da cidade do Natal da tradicional familia Alburquerque Maranhão era casado com uma india e pelo qual deixarão o casal uma vasta descendencia hoje expalhadas por varios estados brasileiros e outros países.

    Acredito que seja um total mímimi desse participante chorão,porque no Brasil aproximadamente 90 ou 95% das pessoas são mestiças:brancas,amerindias e pretas em menor ou maior grau de miscigenação,com raras excessões de comunidades isoladas de europeus na região sul do Brasil com imigraćões mais recentes no fim do seculo 19 e inicio do seculo 20,entre alemães,austriacos,italianos,russos e outros com suas familias já constituidas que só se relacionam conjugalmente dentro dessas proprias comunidades étnicas europeias e também das comunidades indígenas e quilombolas que ainda vivem isoladas em seus territorios.

    Resposta
    • observanatal

      Não se deve minimizar a dor do outro. Escreveu demais para justificar um discurso imbecilizado.

      Na verdade fez um preâmbulo pseudo intelectual para justificar o seu preconceito.

      Resposta
  • observanatal

    Jornalista, se Rodolfo sair, não será por um erro, mas por uma sequência. Foi tolerar a afetação de Gil, foi comentar sobre o vestido de Fiuk, foi falar sobre o cabelo de João. Além disso, ser dissimulado, justificando os preconceitos por ser do interior, por ter sido criado dentro de ambiente preconceituoso. Não justifica, ainda mais quando tem condições de reavaliar todas essas questões. Quando nosso mundo expande, não há justificativa para viver no mundo das cavernas.

    Se as pessoas percebessem o quanto se pode aprender com essas cobaias dos realities.

    Resposta
    • Legião

      Preconceito coisissima nenhuma para não escrever p.nenhuma,minha mãe é amorenada e filha de um belo mulato,alto e com olhos verdes,este meu avô já falecido.

      Resposta
      • observanatal

        O “amorenada” (não incluí nem o mulato, quem vem de mula) e o foco para os olhos verdes já diz tudo. Racismo estrutural é isso.

        Aí já digo, é preconceito pra porra!

        Leia Laurentino Gomes, em “Escravidão”. Talvez você consiga aprender alguma coisa.

        Resposta
  • Legião

    Preconceito coisissima nenhuma para não escrever p.nenhuma,minha mãe é amorenada e filha de um belo mulato,alto e com olhos verdes,este meu avô já falecido.

    Resposta
    • Legião

      Observa Natal,eu escrevi que minha
      è amorenada,porque ela puxou mais para a cor da pele branca do lado da mãe dela,a minha avó,mas,ela è levemente bronzeada pelo sol,sempre dizem que ela possui a pele cor de canela e possuindo os cabelos crespos do pai dela,o meu avô.

      EU sou considerado um homem branco com cabelos finos e lisos,más,me considero pardo,no censo do IBGE em que eu fui entrevistado me defini como sendo pardo/mestiço.

      Resposta
  • Legião

    Observa Natal,eu escrevi que minha
    è amorenada,porque ela puxou mais para a cor da pele branca do lado da mãe dela,a minha avó,mas,ela è levemente bronzeada pelo sol,sempre dizem que ela possui a pele cor de canela e possuindo os cabelos crespos do pai dela,o meu avô.

    EU sou considerado um homem branco com cabelos finos e lisos,más,me considero pardo,no censo do IBGE em que eu fui entrevistado me defini como sendo pardo/mestiço.

    Resposta
    • observanatal

      Relaxe, Legião.
      A discordância é saudável. Só defendo que jamais devemos diminuir a dor do outro. Uns sentem mais dor, outros menos. Nem por isso é menor dor. O preconceito racial, econômico, é real, infelizmente.

      Resposta
  • Rogério

    Cada um sabe onde pisa, não vou nem me meter no meio dos dois intelectuais. Aqui no trabalho, alguns negros ficaram puto com o cara que chorou, não sei nem que é, pois não assisto. Comentários deles é que foi drama demais por nada. Não entendi nada, perguntei: Foi racismo, foi desrespeito. Resposta: Foi mimi mimi. Quê danado é esse? E de quem? Vivemos tempos sombrios, DEUS nos livre.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *