QUIMERAS SEMELHANÇAS
Tenho contado algumas estórias neste Território Livre, todas levemente baseadas em fatos, pessoas e na memória claudicante de um quase setentão.
Muita gente querida que faz falta em nossas vidas, renasce. Exemplos de viver e bem querer aparecem do nada, sem motivos aparentes.
Legados, em comportamentos, perspicácia e humor. Hábitos e costumes que não existem, nem os tempos modernos permitem mais.
Aflora o que ainda está guardado na memória, com as devidas e inevitáveis mudanças provocadas pelo passar dos anos, e antes do esquecimento total.
Que seja assim, até a hora do embarque no trem para Alzheimer.
A identidade dos perfilados quando resguardada, algumas vezes, não se há de negar, é como se estivessem se revelando.
Muitas vezes, relações familiares evocam sentimentos incontroláveis.
O antepassado é sempre único, imaculado, mas depois da última viagem, tudo que ficou para trás e resta, pertence a cada um, e a todo herdeiro da riqueza imaterial que não precisa de guardiões, nem de representantes legais.
A boa fortuna agora é só sentimento.
A pessoa lembrada, sofre os efeitos do afeto, que passa por filtros, controles e esquecimentos voluntários, para ressuscitar em muitas versões.
Que cada um conte a sua, do seu jeito.
Não merece culpa quem viaja pelo tempo e resgata das prateleiras pouco frequentadas, as reminiscências que podem servir de exemplo para as gerações do presente e as que estão a chegar.
Cada cena é contada ao feitio de quem a concebe, lembra e dirige.
Os personagens são singulares, mas aceitam múltiplas versões, pintadas em todas as cores do caleidoscópio da imaginação.
É comum o memorialista, sem pretenções de historiador ou biógrafo, receber no privado, reprimendas pelo que mostrou em público.
Lições de como desenhar os perfis.
Censuras pelo jeito, forma e modo de narrar fatos e verdades.
Exigências e exageros para preservar a honra nunca vilipendiada.
Não é este o propósito destes pequenos textos sem estilo, rumo, nem cabrestos.
Seria muita pretensão parodiar Nelson Rodrigues, mas aqui, a Vida É Como Ela Parece Que Foi.
Como me contaram, ou consigo lembrar.
Deixo para os biografistas, os rigores das informações precisas, completas e fidedignas.
Aqui, toda coincidência será sempre tratada como mera semelhança.
O artista plástico Sandro José da Silva, nasceu em Belo Jardim, Pernambuco. Autodidata, está radicado no Rio de Janeiro
É isso mesmo, o que fomos, o que somos, e se possível o que seremos, tem e deve ser contado, somado e nunca diminuído. Show de bola.