20 de abril de 2024
CoronavírusPolítica

RECALL DE HERÓI

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Jacinda Ardern.                             Andrew Cuomo


Nos momentos de maior tensão e perigo, quando não parece haver mais  saídas, é que se espanta o  desânimo e se procura ajuda nas forças superiores.

Enquanto o além não se manifesta, sobram candidatos a heróis de carne e osso para nos proteger.

Com a escassez de matéria prima genuinamente nacional, o jeito é recorrer à importação de modelos que ainda não são produzidos em série pela política tupinambá.

Jacinda Ardern, das longínquas novas terras do mar, eleita primeiro-ministra aos 36 anos, casada sem papel passado, mãe durante o exercício do mandato, liderou o país de menos de 5 milhões de habitantes com sabedoria e firmeza.

Convenceu os descendentes dos Māoris da Aotearoa e os abandonados  por James Cook a se isolarem ainda mais.

Do resto do mundo, das outras  ilhas,  do arquipélago e dos vizinhos.

Sua estratégia e o índice de desenvolvimento humano dos ilhéus ajudaram.

Hoje, os neozelandeses podem se orgulhar do melhor desempenho no enfrentamento da pandemia.

Somam menos de 30,  as mortes desde que a primeira onda quebrou em Matai Bay.

Algum trauma de gênero ainda não superado e a dificuldade de estocar e trazer  ventos  daqueles fins de mundo, levam à travessia do Pacífico para procurar modelo de proteção nas terras dos super-heróis.

Na capital do mundo, um valente e destemido sessentão, sentado à frente de câmeras, microfones e muitos holofotes, deu lições de como lidar com a  falta de recursos, que antes pareciam inesgotáveis na meca da riqueza, no campo de batalha mais violento de todos.

Fez tudo que agrada, conforta e corre rápido na mídia.

Inflou hospital de lona e campanha no Central Park, ancorou navios-hospitais no píer do Hudson, encheu hotéis de médicos e enfermeiros em descanso, estacionou caminhões-frigoríficos em frente aos hospitais que tratam os negros e chicanos do Bronx, mastigou números, deglutiu estatísticas e falou do futuro com determinação e confiança dos que vão vencer.

Espalhou esperança e colheu os primeiros frutos do sucesso.

A mais completa tradução da aristocracia yankee, filho de governador, tendo sido casado com uma Kennedy legítima (sobrinha de John, filha de Bob), governando o estado há dez anos, ainda com direito a mais uma reeleição, Andrew Cuomo experimenta o amargo sabor da dúvida.

Seus 111 briefings mereceram o mais disputado prêmio conferido ao jornalismo de TV.

Na velocidade dos tsunamis de contaminação, o Emmy chegou junto com denúncias de manipulação de dados para sua administração sair melhor na telinha e na foto.

Deslizes que não ficam somente no dourado das pílulas.

Acusações de falhas na assistência e mortes escondidas de idosos começam a aparecer no mesmo horário nobre que ocupou com tanta eficiência.

O sonho de um salto democrata para suceder o presidente octagenário parece ter acabado, como outra jaboticaba da política americana.

As denúncias de assédio sexual (já na terceira assessora bolinada) poderá virar sentença de aposentadoria a bem da moral pública.

Enquanto isso, nas florestas tropicais desmatadas, ruas, campos e construções, os degradados filhos da mediocridade seguem sem rumo e sem guia.

Quem sabe, antes da  próxima curva ascendente, não apareça um novo paladino para nos salvar das trapalhadas do supercapitão?

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