20 de abril de 2024
Lifestyle

RECEITA PARA PARAR DE TRABALHAR

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Edward Hopper – A Perna Longa – 1935


O último dia de trabalho começa muito antes.

Planejado. Muito bem programado.

Anunciado. Especial.

Com festa de despedida.

Uma profissão, em particular, quebra essas regras.

Médicos são seres híbridos. Movidos a mais de um combustível e múltiplas atividades.

Para eles, as aposentadorias quase nunca são totais.

Continuam trabalhando, mesmo com carga horária reduzida ou em campos de atuação selecionados.

Fazendo o que gostam, sem muito gosto para outras atividades.

No final dos anos 70, um médico-residente ouviu numa  conversa de sala de repouso de centro cirúrgico, uma estória que virou lição de vida.

Com a parte prática a ser lembrada 40 anos depois.

Um dos mais requisitados médicos do Rio de Janeiro, ainda meca da medicina, deixou atônitos seus colegas e clientes, ao abdicar da clínica, abruptamente, sem motivo que justificasse.

O Dr. Paulo Frederico de Albuquerque (1913-1999), filho de médico, formado pela Faculdade Nacional de Medicina, fez residência no mais famoso serviço de Urologia do mundo, no Massachusetts General Hospital.

Foi chefe da conceituadíssima 14ª Enfermaria da Santa Casa da Misericórdia do Rio de Janeiro.

Comandava também uma equipe de jovens médicos,  na mais invejada clínica privada da especialidade.

Numa sexta-feira, como qualquer outra, depois do último cliente,  avisou à secretaria que não iria atender a partir da semana próxima.

Fosse motivo de viagem, a auxiliar saberia. Não havia programação de encontros médicos nem congressos. Raras escapadas para o  lazer familiar, teria ela sido informada com mais antecedência.

O certo é que o doutor nunca mais voltou ao consultório.

Sua aposentadoria precoce, mal completados os 60 anos, no auge da carreira, foi arquitetada, sem que ninguém percebesse.

Não deixou  pacientes internados. Nenhuma cirurgia marcada. Um competente assistente já estava designado para tocar o serviço no hospital filantrópico.

O acadêmico e medalhão deixou uma única pista na rápida despedida,  antes do último adeus à vitoriosa carreira médica.

Iria ocupar o tempo, jogando tênis, paixão despertada nos anos passados em Boston.

Praticou outros esportes e não deixou de mandar notícias.

Durante anos, singrou mares revistos e ampliados, no seu veleiro Vitória.

Deixou este capítulo da vida registrado em dois livros de crônicas, com relatos de aventuras e experiências das viagens.

Sem flashbacks.

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One thought on “RECEITA PARA PARAR DE TRABALHAR

  • Antonio Ricardo Calazans Duarte

    Gostei da experiência de vida do Dr. Paulo Frederico. Por demais inteligente, temos que viver o que a vida nos proporcionou.
    Abraço DA.

    Resposta

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