19 de abril de 2024
Coronavírus

RECONTOS DA MESMA HISTÓRIA

 

Vida e morte (1915) – Gustav Klimt – Leopold Museum, Viena


Quem achar um jornal velho de dois anos atrás, não vai acreditar que o governo do estado, iluminado pelo comitê de altíssimo nível científico, tenha baixado um decreto de restrições  a atividades, tão severo quanto aquele.

Motivo  da primeira  troca de farpas e antígenos com o time dos igualmente doutos experts da prefeitura, na divergência sobre o efeito profilático do fechamento dos supermercados aos sábados e domingos.

A roda grande acabou  passando por dentro da pequena, com o aborto de outras medidas, na  ideia do secretário de gestão de projetos e articulação institucional, de limitar aos gêneros de primeira necessidade, numa cesta básica que excluía as carnes de churrasco e sua inseparável companhia, a cervejinha dominical,  as mercadorias expostas nas gôndolas, o que livraria a população de pelo menos uma corona.

A lourinha suada mexicana.

Com tanta regulamentação e ciência do comportamento, as  pessoas foram criando novos hábitos.

Aqueles dias nunca serão esquecidos.

Mesmo sem sangue, futebol nem trabalho, foram diferentes, abafados e  medrosos.

Sem nada sentir, a não ser o cheiro e o gosto das coisas, tudo era igual. Tudo estava bem, sem nada andar bem.

Um ar pesado, tão limpo quanto o de Nova Déli durante a  quarentena.

O jornal em papel já lido na telinha e na cama, antes de ser achado entre os arbustos espinhentos do canto do jardim, era a medida do desânimo

Tudo sem muita graça.

Novidade alguma.

O novo hábito de só ligar a TV no final da tarde, para a  mesa redonda ancorada pelo Mandetta.

Já esquecidas,  as primeiras e últimas aparições da bi-ministra Damares , preocupada com o aumento da violência doméstica, sem  levar em conta as medidas protetivas do próprio governo.

Não tinha como um  cocorote ser deflagrado, guardada a  lonjura regulamentar de 1,5m da outra pessoa, incluídos cônjuges em acalorada discussão sobre lockdown e outros anglicismos.

Não havia o que fazer,  senão assistir à sessão terror, com o resumão de Bonner Karloff a  alimentar o pânico em doses noturnas e cumulativas.

Tranquila e glamurosa, seguia só a vida dos blogueiros movidos a cargos comissionados.

Um dissidente, sem patrocínio, somente por  sugerir, como contribuição ao enfrentamento da peste, o fechamento do teatro, biblioteca e equipamento turístico, levou carão, fama de alarmista e ameaça de processo por divulgar fakenews. Tudo registrado em  nota oficial.

Mas os que agouravam  30 mil mortos em quarenta e cinco dias, não perderam a pose de sabichões, nem os 15 minutos de fama, diariamente, em todos os telejornais.

Que não se esqueça: essa é a história.

Esperança (1903) – Gustav Klimt – Galeria Nacional do Canadá, Ottawa.

2 thoughts on “RECONTOS DA MESMA HISTÓRIA

  • Gosto muito de Gustav Klint. Tenho uma reprodução na nossa suíte: Denae. Hoje prefiro nem comenta nada sobre o que vc escreveu.
    Estou tentando me energizar diante de umas verdades que não poderia calar. Meu marido passou um constrangimento grande capitaneado por uma professora da UFRN, nem tão brilhante tendo como foco dinheiro e preconceito social. Uma pseudo esquerdista local. Todas as famílias tem seus personagens e tem pessoas até do nosso convívio que vivem noutra época.
    Acho que só vêm a realidade que querem. Sou até muito agradecida a sua genitora, mas minha vida foi uma luta constante.
    Deveria esclarecer ao husband que ando em Natal é para resolver muita coisa e nem sempre para passear. Até que faço bons passeios. Nasci aqui sou filha de classe média, originalmente pobre. Impedida da atividade de ensinar por ignorância de outras. Estudei em ótimos colégios eu e meus irmãos. Não tenho culpa se o Brasil está virado de ponta a cabeça. Alguns problemas locais são cristalizados.

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    • Domicio Arruds

      Uma Feliz Páscoa para você e sua família.
      Fico grato pela leitura.

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