24 de abril de 2024
CULTURA

Reforma Administrativa na estaca zero e dá poder para presidente fechar universidades, Ibama, Cade…

O assunto do momento nas próximas semanas, não vai ter para onde correr, será Reforma Administrativa e antes que você, leitor, fique desinformado ou ache que existe um complô da mídia com a oposição inconformada nas críticas ecoadas, vale a pena a leitura de um texto didático e informativo sobre o tema.

É o artigo do professor Carlos Ari Sundfeld, da FGV, na Folha de São Paulo de hoje. foto

O Brasil tem problemas sérios na administração pública. Um deles está nos recursos humanos. Há desigualdades absurdas entre categorias de servidores. Há carreiras demais. Também faltam estímulos ao bom desempenho. Por isso, a produtividade é baixa. As despesas são incontroláveis. Os serviços sociais, como educação e saúde, são precários. E a confusão jurídica é atordoante.

Com a promessa de ajeitar as coisas, o governo enviou ao Congresso uma PEC (proposta de emenda à Constituição). Seu efeito prático será aumentar a confusão e adiar mudanças.

O primeiro problema é não querer mexer com os servidores atuais. Um mau começo. As distorções existem hoje. Corrigi-las não tira direito de ninguém. Não há direito adquirido ao privilégio e à improdutividade. E não é preciso acabar com a estabilidade dos servidores para melhorar a gestão pública. Basta cobrar o aumento da produtividade e premiar quem faz mais. Para isso, ajustes por leis ordinárias podem fazer a diferença.

O governo tem diagnósticos corretos sobre muitos pontos. Mas o caminho proposto é estranho. Não é preciso PEC para acabar com promoções automáticas, corrigir distorções remuneratórias, impedir penduricalhos, modernizar concursos públicos, extinguir carreiras, avaliar servidores em fase de experiência, desligar servidores estáveis que tenham desempenho insuficiente, ampliar os contratos por tempo determinado. Para tanto, bastam bons projetos de lei, cuja aprovação é mais simples.

Em 1998, houve uma reforma que modernizou normas administrativas da Constituição. Até hoje estamos esperando as leis regulamentadoras. Vamos repetir a estratégia que não funcionou?

O que justifica uma nova PEC? Além de desnecessária para boa parte das mudanças, ela precisa do voto de 3/5 dos deputados e senadores.

Em 2019, o governo já havia proposto reformas na Constituição para controlar gastos públicos, inclusive com servidores, e mudar o pacto federativo. Eram muitas normas, e a qualidade jurídica, duvidosa. De qualquer modo, nada andou até agora. Uma nova PEC não vai agilizar o debate.

Há o agravante de que o efeito imediato de uma emenda constitucional sobre o regime dos servidores públicos será quase nenhum. Tudo ainda dependerá de novas leis.

Por que aumentar assim o tempo da reforma? O mundo político tem de cobrar o envio imediato dos projetos de lei, que são de iniciativa exclusiva do Poder Executivo. Nada justifica o adiamento.

Uma curiosidade da proposta é dar nome novo para o que já existe. Liderança e assessoramento da PEC é o atual cargo de confiança, que continuará dispensando concurso.

Cargo típico de Estado é o atual cargo efetivo, que seguirá dependendo de concurso e gerando estabilidade. Vínculo por prazo determinado é o atual contrato por tempo determinado dos temporários. Mudanças pouco úteis, que aumentam o cipoal jurídico.

Seria bem melhor, por exemplo, se o governo aproveitasse as emendas parlamentares à MP 922, que há poucos meses tentou ampliar os contratos de servidores por tempo determinado.

A MP caducou, mas a discussão mostrou as dificuldades dos estados e municípios para usar bem esses contratos, frequentes em educação e saúde. Boas soluções surgiram no Congresso. É viável aproveitá-las numa lei nacional. O assunto é urgente e não depende de PEC.

Por fim, há ideias preocupantes na PEC. Uma é dar ao presidente da República o poder de, sem autorização do Legislativo, extinguir, transformar ou fundir autarquias e fundações.  Isso inclui o Ibama, o Iphan, o BC, o Cade, as agências reguladoras, as universidades federais e o CNPq.

É evidente que não podem ficar nas mãos de uma só pessoa as decisões sobre organização administrativa em áreas tão importantes como ambiente, patrimônio histórico, política monetária, defesa da concorrência, regulação econômica, ensino superior e desenvolvimento científico.

Estamos na estaca zero.

One thought on “Reforma Administrativa na estaca zero e dá poder para presidente fechar universidades, Ibama, Cade…

  • SEBASTIÃO MONTEIRO DA COSTA

    A volta às aulas. Penso que o retorno às atividades escolares trará mais prejuízo à comunidade estudantil que se zerássemos o ano e nos preparássemos para o retorno regular no próximo ano. Temos que entender que a pandemia da Covid-19 ainda mata, em média, 1000 pessoas por dia no Brasil. Sabe-se, também, que ninguém passará imune ao prejuízo que esta guerra de saúde está promovendo. Por que prejuízo? Na questão das voltas às aulas, pretende-se não perder o ano, mesmo que as vidas dos professores, alunos e familiares sejam ceifadas em decorrência do contágio com o coronavirus. Tentar recuperar um ano letivo em 3 meses, será simplesmente um paliativo que trará prejuízos ao aprendizado dos alunos. E este prejuízo de aquisição de conhecimento será um atraso na educação deles, irrecuperável, o que se constituirá uma lacuna no processo aprendizagem, com reflexão para o resto da vida. Então, fica a sugestão para recomeçarmos tudo em 2021, numa situação de melhor segurança para todos nós. Não adianta, neste momento, para atender às pretensões e anseios da economia e de ideologias políticas desumanas, jogar pessoas para a morte, transformando um problema de educação e saúde num genocídio.

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