RENÚNCIA EM POUCAS PALAVRAS
Foi o mais sintético de todos os discursos que um presidente desta república jamais tenha feito.
Nunca antes, alguém foi tão eloquente.
A sinceridade não deixa margem a nenhuma dúvida.É sua principal característica.
Aquelas palavras devem ter sido muito bem pensadas. Brotaram com sentimento. Vieram do fundo do coração.
Já eram esperadas. Percorreram um longo caminho e foram sendo trabalhadas sem pressa.
Havia sempre a dúvida qual a melhor oportunidade de serem proferidas.
O tempo viria como o senhor da verdade, num átimo de razão.
Fatos que depois de passarem pelos filtros da isenção, serão História.
A agressão em Juiz de Fora foi uma facada, pela frente, na capacidade dos debates pré-eleitorais de comparar os candidatos.
Saber o que eles pensam dos grandes problemas nacionais, como enfrentá-los e até para se concluir que os que alcançaram a linha de chegada não são merecedores da confiança. Nem do voto.
O vazio venceu num WO invertido. Em dois turnos.
Duas semanas antes da posse, no escaneamento natural da imprensa da vida pública do eleito, um fato gravíssimo e a certeza que seria facilmente esclarecido.
Debalde.
As desculpas de tão rachadas, jogadas de um gabinete parlamentar para outro, com passagens pelo da câmara federal, mostraram-se esfarrapadas.
Fracionadas em cheques, depósitos, empréstimos e pagamentos de contas conjugais.
Poderia ter proferido o discurso de despedida, ali mesmo. Batido a continência do dever eleitoral cumprido, pedido para o general substituto assumir o comando das tropas e deixar o quartel.
A assombração continuou pairando sobre o laranjal. Os fantasmas, vistos nas sombras, só desapareceram com o exorcismo de um ministério que veio melhor que a encomenda.
Sinalizando a Economia, técnica e liberal.
A Justiça, isenta, sem interferências.
Os demais setores, eficientes e discretos.
Ninguém contava era com a astúcia dos chapolins numerados, suas trapalhadas, ciumeiras e intrigas.
Nem com o poder revelador das carências que têm os microfones e os holofotes.
Aos trancos, barrancos e estultices, com os bons ventos em todos os mares de fora, alguns reparos e reformas, a velha barcaça poderia chegar inteira ao porto 2022.
O capitão que já havia dito e repetido que aquela não era sua praia, que enjoa a qualquer marola e não sabe surfar uma boa onda, começou a gostar das delícias e das dores de ser timoneiro. E a sonhar com a próxima perna da viagem.
Eis que na tragicomédia nelsonrodriguiana, entra em cena o imponderável de Almeida.
O que de longe só atemorizava, desembarcou disfarçado de folião.
O que não destruiu, deixou de pernas pro ar.
Incluído o governo.
Sem norte, sem rumo, sem prumo, sem os melhores marinheiros, a nau capitânia, como um olho cego, vagueia.
No meio da tormenta, finalmente aceitando que a tripulação estava sendo dizimada era mesmo pela inclemente peste, declarou que a partir daquele momento estava abandonando o posto.
De forma irrevogável e irretratável.
Cabe agora ao Congresso, protocolar, transcrever, promulgar e publicar a menor carta de renúncia que se tem notícia. Em áudio.
–E daí?
Muito esclarecedor e até que me diverti lendo