20 de abril de 2024
Política

RENÚNCIA EM POUCAS PALAVRAS

47C5BBD7-5590-4E32-BDE8-46D7C54EF1A0Foi o mais sintético de todos os discursos que um presidente desta república jamais tenha feito.

Nunca antes, alguém foi tão eloquente.

A sinceridade não deixa margem a nenhuma dúvida.É sua principal característica.

Aquelas palavras devem ter sido muito bem pensadas. Brotaram  com sentimento. Vieram do fundo do coração.

Já eram esperadas. Percorreram um longo caminho e foram sendo trabalhadas sem pressa.

Havia sempre a dúvida qual a melhor oportunidade de serem proferidas.

O tempo viria como o senhor da verdade, num átimo de razão.

Fatos que depois de passarem pelos filtros da isenção, serão História.

A agressão em Juiz de Fora foi uma facada, pela frente, na capacidade dos debates pré-eleitorais de comparar os candidatos.

Saber o que eles pensam dos grandes problemas nacionais, como enfrentá-los e até para se concluir que os que alcançaram a linha de chegada não são merecedores da confiança. Nem do voto.

O vazio venceu num WO invertido. Em dois turnos.

Duas semanas antes da posse, no escaneamento natural da imprensa da vida pública do eleito, um fato gravíssimo e a certeza que seria facilmente esclarecido.

Debalde.

As desculpas de tão rachadas, jogadas de um gabinete parlamentar para outro, com passagens pelo da câmara federal, mostraram-se esfarrapadas.

Fracionadas em cheques, depósitos, empréstimos e pagamentos de contas conjugais.

Poderia ter proferido o discurso de despedida, ali mesmo. Batido a continência do dever eleitoral cumprido, pedido para o general substituto assumir o comando das tropas e deixar o quartel.

A assombração continuou pairando sobre o laranjal. Os fantasmas, vistos nas sombras, só desapareceram com o exorcismo de um ministério que veio melhor que a encomenda.

Sinalizando a Economia,  técnica e liberal.

A Justiça, isenta, sem interferências.

Os demais setores, eficientes e discretos.

Ninguém contava era com a astúcia dos chapolins numerados, suas trapalhadas, ciumeiras e intrigas.

Nem com o poder revelador das carências que têm os microfones e os holofotes.

Aos trancos, barrancos e estultices, com os bons ventos em todos os mares de fora, alguns reparos e reformas, a velha barcaça  poderia chegar inteira ao porto 2022.

O capitão que já havia dito e repetido que aquela não era sua praia, que enjoa a qualquer marola e não sabe surfar uma boa onda, começou a gostar das delícias e das dores de ser timoneiro. E a sonhar com a  próxima perna da viagem.

8EEAD02E-240B-4F6F-BB04-5F2F9D0EDF9FEis que na tragicomédia nelsonrodriguiana, entra em cena o imponderável de Almeida.

O que de longe só atemorizava, desembarcou  disfarçado de folião.

O que não destruiu, deixou de pernas pro ar.

Incluído o governo.

Sem norte, sem rumo, sem prumo, sem os melhores marinheiros, a nau capitânia, como um olho cego, vagueia.

No meio da tormenta, finalmente aceitando  que a tripulação estava sendo dizimada era mesmo pela inclemente peste, declarou que a partir daquele momento estava abandonando o posto.

De forma irrevogável e irretratável.

Cabe agora ao Congresso, protocolar, transcrever, promulgar e publicar a menor carta de renúncia que se tem notícia. Em áudio.

E daí?

One thought on “RENÚNCIA EM POUCAS PALAVRAS

  • GEORGE STEVENSON GOMES

    Muito esclarecedor e até que me diverti lendo

    Resposta

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