29 de março de 2024
CarnavalCoronavírus

RÉQUIEM DE CARNATAL

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Este ano não foi igual àqueles 29 que passaram.

Fora de época, o tríduo momesco não foi antecipado, as ruas não ficaram cheias de gente.

Não foram vistas  aglomerações.

Nem abraçaços.

Nem beijos anônimos.

Hotéis não registraram overbooking.

Filas nos restaurantes, somente para delivery.

Apenas uma doença foi evitada, no lugar de tantas outras transmitidas pelo amor.

Nos silenciosos bailes de mascarados, não distribuíram camisinhas.

A sombra de thanatus encobriu vênus.

Eros não lançou suas flechas a céus, refletores  e holofotes abertos.

Se houve folia, foi entre quatro paredes.

A parelha completada e as caras metades encontradas nas telas e sites de relacionamento.

A rotina da cidade, agora  com outras mudanças.

O novo trânsito, sem engarrafamentos, parece mesmo ter vindo pra ficar.

Ninguém precisou sair da cidade para garantir a tranquilidade. E o silêncio.

Foi dispensado o  ponto facultativo na sexta-feira gorda de axé.

Em home office não se precisou de autorizaçaão do chefe para queimar o expediente na ressaca da segunda.

Do entrudo, ficou saudade. Lembranças dos amores cantados em versos de poetas baianos.

Se antigos foliões choram o tempo  das fantasias de pierrôs, colombinas, arlequins, piratas da perna-de-pau (e do rum montilla), as lágrimas são pelos abadás, mamãe-sacodes e cheirinhos da loló.

A pandemia deu um lockdown na festa que fazia parte do calendário turístico  e da história de casais e famílias que ajudou a formar.

Logo quando não se reclamava mais  dos transtornos e direito de ir e vir dos amofinados, vem a primeira falta.

Por onde andarão os brincantes e quem, em serviço, não vadiava?

Onde vão descarregar tantas energias, se até réveillon não há mais?

A não ser com exame sorológico. E de firma reconhecida.

As contas deste fim de ano não serão pagas com a  renda extra das barraquinhas armadas nas calçadas e ruas de acesso e entorno.

O que ainda resta do auxílio emergencial, faz esquecer a grana suada nas caixas de isopor cheias de cervejas (estúpidas e geladas) que dividiam com drones e ovnis imaginários, espaços sobre as cabeças.

Os milhares de trabalhadores puxadores de  cordas, guardiões do apartheid, sem trabalho,  foram somados  aos 14 milhões de desalentados.

Não apareceram criativos empreendedores para uma micareta virtual.

Não pensaram no  sucesso que faria um bloco do eu sozinho dando voltas em torno da mesa de jantar.
Com trio elétrico à distância.

Ficarão balofas as rainhas saltitantes sem tantas horas de calistênicos cantares?

Saradões de todos os gêneros, devotados cumpridores da lei ninguém é de ninguém, haverão de encontrar um lugar de onde não são nem irão para ficar.

Os otimistas que fazem planos para a folia do ano novo, só terão  dúvidas,  na hora de escolher o bloco.

Cheiro de vacina.

V’umbora vacinar.

Coronavaite.

Imuno-jerimum.

Vacina elétrica.

Em 2021,  a festa está garantida.

Acreditemos na Ciência.

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